sábado, 25 de abril de 2009

Um sonho tornado realidade

Começou pelo voluntariado na Associação de Protecção Animal da Figueira da Foz (APAFF), contribuindo para minimizar as situações de abandono vividas por aqueles que são considerados ‘o fiel amigo do homem’.
Como não podia só desenvolver trabalho de voluntariado, por questões de sobrevivência, Lara Teunissen correu atrás dos seus sonhos, que a levaram até Amesterdão, à Greenpeace Internacional.
Este voo até ao “país das flores” não foi directo. Fez escala em Espanha, passou pelo Rio Guadiana e só depois aterrou em Amesterdão. Mas, para esta jovem figueirense, este voo têm um regresso marcado a Portugal. Só não sabe quando.
Aos 25 anos de idade, Lara Teunissen desenvolve um trabalho que alia as suas duas áreas de interesse: comunicação e ambiente.

Ao longo da sua vida a preocupação na defesa e protecção dos animais e do meio ambiente sempre foram uma constante. De que forma estas questões integram o seu percurso pessoal/profissional?

Costumo dizer que sou activista por natureza. Comecei a ser activista em pequenina. O activismo é uma maneira de estar na vida, é o estarmos atentos às coisas que acontecem à nossa volta e termos a percepção de poder alterá-las, de poder melhorar a realidade com que convivemos e isso pode acontecer de várias formas. Sempre tive intenção de fazer do meu trabalho um trabalho activo nestas áreas, que tivesse resultados práticos em termos de defesa do ambiente, defesa e protecção dos direitos dos animais. E era muito difícil para mim, na altura em que acabei o curso, estar em Portugal e aliar os meus dois lados: por um lado a comunicação, que me fascina, e por outro o trabalho de campo, o activismo directo. O que percebi foi que em Portugal não conseguia arranjar instituições que apoiassem este tipo de trabalho. Elas existem, mas numa escala mais reduzida e acabava por ser complicado, em início de carreira, ter logo essa possibilidade… A minha mãe costumava até dizer que o meu companheiro teria de fazer muito dinheiro porque eu ia dedicar-me ao voluntariado o resto da minha vida… Como isso não é possível, comecei a ver alternativas diferentes e a Greenpeace era um local onde sempre tinha ‘sonhado’ trabalhar. Fascinava-me o facto de ter tantos recursos para poder trabalhar e, como também já trabalhava com a Associação Protecção Animal da Figueira da Foz, adorava a ideia de conseguir aliar as duas áreas no mesmo trabalho… e acima de tudo sentir que o meu trabalho diário tem efeitos reais nas coisas que acredito que precisam de ser feitas.


Mas até chegar à Greenpeace Internacional houve um percurso a percorrer…

Em 2001 fui estudar para Coimbra, Ciências da Informação, e acabei por seguir a vertente de comunicação social.
Sabia que queria trabalhar na área de comunicação mas não tinha definido ao certo o tipo de trabalho que queria fazer: se seria Relações Públicas, Marketing, Relações Internacionais ou Jornalismo. Dentro das minhas prioridades o Jornalismo era o que estava mais apagado, mas acabou por ser aquele que me fascinou mais e o que me fez continuar na área de comunicação.

O seu trabalho final de curso esteve ligado à área do ambiente e ao Jornalismo on-line. Essa passagem por esta área do jornalismo ficou por aqui ou prosseguiu?

Quando terminei a licenciatura, e como o curso passou a ser de quatro anos e não de cinco, aproveitei o último ano para fazer um mestrado em Jornalismo e Comunicação On-Line no Instituto Universitário Pós Grado, em Espanha.
Na altura fascinaram-me as possibilidades que o on-line oferecia, porque ao contrário do jornalismo de imprensa e do jornalismo televisivo, em que as agendas estão muito preenchidas e em que é muito difícil trazer temas alternativos – como o ambiente –, que não sejam tão políticos e tão mediáticos, o on-line oferece esse espaço através do jornalismo de investigação. Após ter terminado o mestrado fiquei um pouco parada, a pensar o que iria fazer…

E o que pensou?

Comecei a enviar uns currículos para jornais na zona de Coimbra, mas não estava motivada… até ao dia em que me cruzei com a possibilidade de fazer um estágio na Greenpeace Internacional, na Holanda. Enviei o meu currículo, com todos os meus amigos a dizerem-me que seria uma aposta muito arriscada, que eu estava a olhar muito longe. Mas eu pensava: “por que não há-de um dos currículos escolhidos ser o meu?”. Infelizmente, na altura, não consegui, mas entretanto fui contactada pela Greenpeace de Espanha que, não tendo um estágio para oferecer, tinha uma campanha que ia centrar-se no Rio Guadiana e precisava de alguém que trabalhasse com os media portugueses. Estive um mês e meio a trabalhar com eles em Espanha, e conheci pessoas fantásticas, jornalistas, ambientalistas… foi uma experiência muito positiva.

Ao regressar à sua terra natal houve necessidade de “repensar” o que iria fazer…

Quando voltei para Portugal, voltei a enviar o meu currículo, desta vez para a Unidade Política da Greenpeace Internacional em Bruxelas, que trabalha directamente com a Comissão Europeia, e fui aceite. Estive cinco meses em 2007 a fazer lá um estágio. Foi muito diferente da experiência de Espanha, porque essa foi mesmo um trabalho de campo, que consistiu em seguir o rio, apresentar todo o trabalho que tinha sido desenvolvido às pessoas, alertar para os níveis de poluição, apresentar as soluções possíveis em cada uma das etapas. Na Greenpeace em Bruxelas era um trabalho muito mais de lobby directo, muito mais formal, ou seja, acabava por ser muito diferente, mas muito interessante.

E depois de mais essa experiência?

Entretanto acabou o estágio e eles não tinham uma posição fixa em que eu pudesse ficar e voltei para Portugal, a pensar mais uma vez o que iria fazer da minha vida… e, curiosamente, foi nessa altura que me contactaram da Greenpeace Internacional, para saber se eu não estaria interessada em ir trabalhar com eles para Amesterdão, como estagiária, com a possibilidade de poder ficar lá a trabalhar com eles. Parecia um sonho, porque foi o sítio para onde eu tinha enviado o meu currículo a primeira vez! Fiquei muito contente e aceitei. Em Agosto de 2007 fui trabalhar para o departamento de comunicação como estagiária. O meu estágio prolongava-se até ao final de Janeiro mas em Dezembro ofereceram-me uma posição como Assistente de Comunicação e aceitei! Acabei por ficar porque entretanto o meu namorado foi comigo e foi mais fácil aceitar uma posição permanente. Já lá estou há um ano e meio.

Conseguir aliar, em termos profissionais, as suas duas áreas de interesse, Ambiente e Comunicação, foi um sonho tornado realidade?

Sim, sem dúvida. Trabalhar no Departamento de Comunicação da Greenpeace Internacional foi um sonho tornado realidade. Mas não escondo que o meu grande sonho é poder desenvolver esse trabalho em Portugal, trabalhando em assuntos que me dizem directamente respeito, porque sinto essa proximidade e tenho mesmo vontade de trabalhar em Portugal.

Actualmente, qual o trabalho que desenvolve na Greenpeace?

Estou como especialista de relações com os media ao nível internacional. Faço assessoria de imprensa, dou assistência aos escritórios locais. Temos 40 escritórios espalhados pelo mundo, e a coordenação da comunicação é feita através de nós. Damos apoio a todos eles consoante as necessidades de cada um, como a divulgação de histórias locais. O meu trabalho passa pela assessoria de imprensa, pelo encaminhamento para os nossos técnicos e equipa de investigação, dependendo do assunto a tratar, e de ser de interesse local, nacional ou mesmo internacional.
Asseguro também o serviço de emergência “On Call”, porque temos sempre alguém que fica responsável para o caso de acontecer alguma catástrofe, alguma situação em que haja necessidade de resposta imediata, alguém estar de serviço para poder fazê-lo.
É um escritório que tem muitos recursos para uma organização não governamental. No entanto, acaba por não ser suficiente para o trabalho que temos. Nesse sentido, acabamos por fazer um pouco de tudo.

Contacta com realidades ambientais de vários pontos do mundo. Nesse sentido, como está Portugal comparativamente a outros países do globo?

Temos organizações não governamentais e associações de defesa do ambiente muito competentes e extremamente activas, mas falta muita projecção. Falta o apoio das pessoas para estas organizações terem poder real… porque estes trabalhos, ao contrário da indústria, não têm um fim lucrativo… como tal, precisam mesmo de ter o apoio da sociedade para poderem trabalhar. Em Portugal as pessoas ainda são pouco sensíveis nesse sentido, o que faz com que estas associações tenham alguma dificuldade de implementação em Portugal.
Tenciono, sempre, vir fazer a minha ‘obra’, isto é, construir a minha obra em Portugal, mas neste momento é muito bom para mim poder aproveitar esta experiência. Acaba por ser uma aprendizagem, para depois poder vir para Portugal e trabalhar activamente. Começar em Portugal é difícil, mas assim que uma pessoa já tenha autonomia para trabalhar sozinha, com ideias mais formadas, há imensas coisas que podem ser feitas cá.

Já há uma Greenpeace Portugal. Como é?

Nós abrimos há pouco tempo o escritório português. A Greenpeace Portugal é um escritório virtual porque não temos recursos para ter um escritório sedeado cá. As pessoas que trabalham para a Greenpeace Portugal estão em Amesterdão, mas o foco de todo o trabalho está direccionado para Portugal. Actualmente, estamos a dinamizar a campanha do Peixe Sustentável, que passa pelo combate à pesca ilegal. Alertar a população portuguesa – que é das que consome mais peixe comparativamente com o resto da Europa – para os locais de origem do peixe que consomem, alertar os consumidores para o facto de existirem espécies em extinção que nós consumimos diariamente sem termos noção de que estamos a pôr em risco os ‘stocks’ mundiais destas espécies… Como não há alerta da parte da indústria, ou seja, a própria indústria não está a zelar pelos interesses das gerações futuras mas unicamente pelo interesse económico nacional, este nosso trabalho acaba por ser importante. Nesse sentido, estamos a desenvolver essa campanha há cerca de um ano e temos cada vez mais activistas. Tivemos uma apresentação da campanha no Rock in Rio Lisboa, ligada também aos problemas das alterações climáticas, e posso dizer que em cinco dias conseguimos cinco mil ciber-acativistas dispostos a trabalhar connosco e a apoiar a causa. Esta situação levou-me a acreditar, ainda mais, que é bem possível que a Greenpecae se instale em Portugal de uma forma mais permanente e mais alargada, através de novas campanhas.

Nos dias de hoje acha que os meios de comunicação social estão despertos para as questões ambientais? É dada a visibilidade que a Greenpeace pretende?

Cada vez mais. Os órgãos de comunicação nacionais já começam a ter secções destinadas exclusivamente ao meio ambiente e que são alimentadas em muito por notícias que são divulgadas por Organizações Não Governamentais, que lançam os alertas. No entanto, as agendas são sempre limitadas e acaba por se dar prioridade, lamentavelmente, a coisas como o futebol, em detrimento de problemas ambientais, que dizem respeito a todos. Mas são pequenos passos que se vão dando. A projecção é cada vez maior e a preocupação por parte das pessoas também tem aumentado. A exigência do público – para os meios de comunicação incluírem nas suas agendas as questões ambientais, protecção e defesa dos direitos dos animais – é cada vez maior.

Que desafios para a Greenpeace tem Portugal?

Em Portugal, tendo só esta campanha e estando as pessoas ainda sedeadas em Amesterdão por falta de recursos, acaba por ser difícil estar atento e divulgar assuntos mais locais. Temos recebido imensos pedidos de ajuda por parte de câmaras municipais e outras instituições, mas não temos meios de dar resposta a este tipo de pedidos. Temos uma campanha muito centrada no peixe sustentável e, neste momento, é esse o nosso foco de atenção, acabando por ir para aí os nossos recursos disponíveis.
Mas quantos mais apoios tivermos, mais possibilidade há alargar esse leque e abrir as nossas campanhas a outras questões.

Texto e Foto: Raquel Vieira

Sem comentários:

Enviar um comentário