sábado, 25 de abril de 2009

E depois do adeus… ao emprego!

Uma jornalista conta, na primeira pessoa, quais as sensações quando o desemprego bate à porta. E deixa conselhos úteis.

“Você está desempregada!”. Que atire a primeira pedra quem nunca teve medo do desemprego bater à porta. Eu tinha e, mesmo com a crise instalada, não imaginava que pudesse acontecer comigo. Primeiro, passamos por uma espécie de torpor, quando ainda não sabemos bem o que acabou e o que vai ser o futuro. Depois, o sentido mais prático bate à porta. É hora de preparar papéis, ir conhecer o centro de emprego da sua área de residência e traçar um plano de ataque em busca de um trabalho. A seguir, passo-a-passo, como é a primeira semana na vida de uma desempregada.

Dia Um
Em menos de meia hora, uma vida profissional de vários anos foi jogada na rua. O tão temido desemprego atingiu-me. E agora? Continuar a trabalhar, pelo menos hoje, está fora de questão. Sinto-me como um daqueles carrinhos das feiras de diversões, sem saber se vou para a frente ou para trás, e a levar pancada de vários lados. Pelo menos é sexta-feira e ainda tenho o fim-de-semana para digerir o assunto. Sinto que vou ter uma azia daquelas…
Conselho: Procure não adoptar um comportamento negativo ou ansioso. A tendência será para que este tipo de sentimentos floresçam e para que a pessoa se sinta de certa forma revoltada e pessimista em relação ao futuro. Contrarie esses sentimentos pois se não acreditar no seu potencial e na sua capacidade de "dar a volta", dificilmente conseguirá sair do ciclo vicioso. Também não gaste os seus dias a "deambular" pela casa e a remoer o passado. O que aconteceu é passado e o que importa agora é preparar-se para uma nova fase na sua vida. Procure transformar esse período de mudança numa fase de transição. Na falta de outras actividades arranje hobbies, faça exercício, enfim, mantenha-se ocupado de corpo e espírito.

Dias Dois, Três e Quatro
O fim-de-semana passou e continuo com os pés fora do chão. Ir ao trabalho, retirar do computador, da mesa e do armário vários papéis. A maior parte não tem importância nenhuma. Como é possível acumular tanto material inútil? Não há resposta, mas agora também não interessa.
Telefonemas… muitos telefonemas de pessoas a perguntar o que se passa. As notícias más correm muito depressa. Algumas pessoas solidárias, a mandar nomes ao patrão louco e a procurar culpados; outras a questionarem o que farei no futuro. Para esses últimos telefonemas não há muita paciência, até porque, já estamos num estado de pânico suficiente para que alguém venha fazer mais previsões de um futuro negro, ou a dizer que o mercado vai estar mal pelos próximos mil anos.
Contactos… Muitos contactos com os amigos e colegas conhecidos. Avisar a quem não sabia, pedir que lembrem de si quando souberem de alguma vaga. Começar a pesquisar na Internet o que se faz quando o desemprego bate à porta. Nossa… O gabinete de estatística europeu estima que o desemprego em Portugal tenha aumentado para 8,3 por cento...
Conselho: Actualize e contacte a sua rede de contactos profissionais, principalmente aqueles que estão directamente associados com o seu sector de actividade. Estes contactos são fontes de informação extremamente importantes já que será através dos mesmos que poderá obter informações sobre o estado do mercado, nomeadamente sobre vagas e oportunidades, como também sobre tendências da área de actividade onde exerce a sua profissão.

Dias Cinco e Seis
Negociar a saída do emprego, 365 vezes sete, mais X, Y, Z e… só????? Como é que eu vou sobreviver???! Ops, olha ali um erro… Ainda tenho dias de férias do ano passado para gozar… Vamos tentar subir mais um bocadinho… vá lá… a rapariga merece… Vale a pena, durante o processo de despedimento, conhecer os seus direitos.
Conselho: O direito a férias é um direito constitucionalmente consagrado. Conforme o seu tempo de trabalho dado à empresa, o tipo de contrato e dependendo de já ter ou não gozado férias no ano em que é despedido, você vai ter direito a montantes proporcionais. Já o valor do subsídio de Natal é proporcional ao tempo de serviço prestado no ano civil. A indemnização também depende da sua antiguidade na empresa e varia conforme o contrato assinado. Não esqueça ainda de pedir o papel para poder receber o subsídio de desemprego.

Dia Sete
Papéis assinados, cheque depositado, é a vez de conhecer, ao vivo, o Centro de Emprego e Formação Profissional da minha área de residência. Não posso esquecer de levar documentos, incluindo o que foi emitido pela empresa. Descubro que esta é uma etapa fundamental e que, a partir do momento da minha inscrição no Centro de Emprego, fica estabelecida uma relação de direitos e deveres entre nós.
O Centro de Emprego está absolutamente cheio. Há muitos desempregados. Depois de retirar uma senha tenho que aguardar, pacientemente, que chamem o meu número. Mais de uma hora depois, sou chamada ao balcão e, após uma pequena entrevista, tenho que aguardar mais um pouco. Sou depois chamada para uma sala onde decorre uma entrevista mais aprofundada. Entregam-me documentos para levar à Segurança Social e um dossier onde está contida a minha “nova” vida. Nele, entre outros, consta um plano e recibos que tenho que apresentar a comprovar a minha busca por emprego. Além disso, descubro que, de 15 em 15 dias tenho que lá ir e apresentar-me.
Saio directamente para a Segurança Social. É que devo entregar, no prazo máximo de 90 dias a contar desde a data do desemprego, um impresso próprio (modelo RP 5000) acompanhado da declaração da entidade empregadora e da declaração do Centro de Emprego. A minha senha é a 102 e o atendimento está no 35. Já vi que vou ter muito tempo até ser atendida. É uma experiência interessante observar a sala de espera. O desemprego bateu mesmo á porta de todos. São novos e mais velhos, mulheres e homens, uns sozinhos, outros em casal, mas a maioria com os filhos. A entrega de jornais gratuitos acaba por distrair a todos, contudo, ao olhar para os lados, o que mais se vê é o caderno de empregos.
Chamam o meu número e levanto com o coração aos saltos. Parecia que estava a adivinhar. Sou mal atendida. A funcionária, uma mulher já de idade, demonstra uma impaciência sem limites que beira à arrogância. Tenho vontade de perguntar-lhe se não quer ir para a reforma e dar-me o seu lugar.
Conselho: Leve fotocópias do Bilhete do Identidade e do Cartão da Segurança Social. Aproveite e tire várias fotocópias de todos os documentos que a empresa entregar junto com a carta de despedimento. Muitas vezes o Centro de Emprego e a Segurança Social parecem não trabalhar em conjunto e, os documentos que entreguei num dos locais, foram pedidos, novamente, noutro lado.

Conclusão
O desemprego está aí, e segundo indicadores europeus, ainda vai atingir os dez por cento até ao final do ano. Já tenho uma grande lista de empresas a contactar. Estou triste, mas inspiro fundo e penso que será apenas uma fase. Amanhã é outro dia.

Adriana Afonso

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