sábado, 25 de abril de 2009

Privilégio ou pressão?

A vida de uma jovem jornalista local pode não parecer muito excitante quando comparada com uma júnior que trabalhe num órgão nacional. Mas o que, num meio pequeno, se pode perder em oportunidades e excitação ganha-se em reflexão e uns quantos encontros imediatos.
Um dos episódios quotidianos que mais irrita os jornalistas da imprensa local é o desdém, no sentido de desprezo arrogante, mostrado por instituições nacionais, públicas ou privadas. Muitas vezes, quando os pedidos de informação extrapolam a esfera de influência geográfica de um jornal local tudo se complica. Quem está do outro lado do telefone faz de conta que anota o recado e não dá seguimento ao caso. Muitos pedidos de informação, esclarecimentos ou comentários feitos por um jornal pequeno ficam sem resposta. Contudo, as mesmas perguntas são respondidas a outros órgãos, fazem aberturas de telejornais e manchetes nos diários nacionais. É por isso com estranheza que o jornalista de um órgão menor vê descer à terra um responsável de uma direcção nacional, um representante do governo, o executante de um cargo de nomeação política.
Quando a responsável da Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) se voluntaria a deslocar-se para prestar declarações, a mais de 30 quilómetros do seu quartel-general, não pode a jornalista cuja acção desencadeou semelhante reacção acatá-la levianamente. Duas questões surgem no imediato: está Margarida Moreira a tentar pressionar a jovem jornalista, ofuscando-a com a sua presença, certificando-se de que a sua mensagem passa ipsis verbis? Ou Margarida Moreira privilegiou o semanário que lhe pediu esclarecimentos acerca de um assunto de âmbito local devido a razões que já anteriormente explicou?
A directora da DREN é, por uns, conhecida por falar torto aos senhores jornalistas dos órgãos nacionais. Por outros é tida por não falar de todo. Então, como é que se disponibiliza a deslocar-se à redacção de um jornal, de tiragem quase insignificante, a fim de esclarecer um assunto de interesse exclusivo daquela localidade e que a autarquia local pretendia manter obscuro? Estará a tentar dar uma cacha ao mesmo periódico ao qual, em entrevista, dissera uns tempos antes muito prezar a imprensa local? Ou quer apenas enviar uma mensagem clara ao autarca daquela cidade, que foi secretário de Estado da Educação na era cavaquista, dizendo-lhe que quem manda é ela?
À júnior que abre a porta da redacção a um representante do governo resta tentar colocar todas estas questões de lado e fazer o seu trabalho da melhor maneira, não se deixando intimidar nem deslumbrar. Deixar falar mas não demasiado, tentar direccionar as respostas no sentido das perguntas, obter novidades sem explorar o carácter pessoal de certas relações políticas. No final de contas, Margarida Moreira revela-se uma personagem interessante, que explica com clareza os seus pontos de vista. A directora da DREN é até acessível e piadética. Mas a sombra da possível pressão paira sobre a conversa, mais na cabeça da jornalista do que nas palavras da professora.
O estabelecimento de uma boa rede de fontes informadas e bem colocadas é um dos maiores desafios de início de carreira de qualquer jornalista. Mas não se deixe a jovem enganar ao pensar que aqui tem uma boa fonte segura. Teve o privilégio da informação vir ter a si. Contudo, rapidamente, essa regalia se pode transformar em pressão na veiculação de determinada informação. Seja como for, não deixa de ser caricato que uma figura reconhecida por falar grosso na televisão se desloque a um jornal local para uma conversa informal e bem disposta.

Liliana Guimarães

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