sábado, 25 de abril de 2009

IMPRENSA REGIONAL

“Veículo de comunicação de proximidade”


Qual o papel da imprensa regional na nossa sociedade? Será a imprensa regional mais influenciável e sujeita à manipulação de grupos económicos, financeiros e políticos ou dos próprios leitores? Que futuro se avizinha para a imprensa regional? Certamente que estas questões não passam, actualmente, indiferentes aos jornalistas, nomeadamente, aos que dedicam a sua “vida” ao meio regional.
O J-Jornalismo foi ouvir a opinião Rui Paulo Agostinho Lopes, gestor de empresas e administrador da Sojormedia, maior grupo nacional de comunicação social regional. E, saber se o futuro da imprensa poderá passar pelo jornalismo de maior proximidade, captando leitores e anunciantes.
De acordo com Rui Paulo Lopes, de 36 anos, a imprensa regional “é um espelho da localidade, do concelho, do distrito e da região de acordo com a dimensão de cada publicação. O seu papel é essencial no acompanhamento da vida pública, social, cultural, política, desportiva, associativa, sendo, em muitos casos, o único veículo de informação que fala dos assuntos que são mais próximos ao quotidiano das pessoas”.
O gestor considera que a imprensa regional, “como veículo de comunicação de proximidade, é um elemento dinamizador das regiões”, uma vez que “acompanha a actividade política”, dando “voz às pessoas”. Mas não só. Rui Paulo Lopes é também da opinião que ela “acompanha as empresas”, divulgando a cultura e incentivando a sociedade civil. “Em muitos casos a evolução da imprensa regional está intrinsecamente ligada à dinâmica da região, das pessoas e das suas organizações, empresas e instituições. A história das últimas décadas tem-se feito muito nas páginas desses jornais”, refere.
Em declarações ao J-Jornalismo, Rui Paulo salienta que, na sua opinião, “a imprensa regional é a voz das regiões e acima de tudo das pessoas esquecidas pela centralidade da capital”, porque “tudo o que surge na imprensa nacional e nas televisões tem como fonte a imprensa e as rádios locais, nomeadamente as situações de maior impacto editorial. O quotidiano do país real não é espelhado nas publicações ditas nacionais”. Segundo o gestor de empresas, a grande mais-valia da imprensa regional “é dar às pessoas o que é das pessoas: sua rua, o seu bairro, a sua cidade, o seu clube, a sua associação, os seus políticos”.

Isenção e rigor

Face aos níveis de influência e pressões a que a imprensa está sujeita, Rui Paulo foi peremptório: “considero que seja o mesmo que acontece na imprensa nacional, mas tudo dependerá do carácter mais ou menos empresarial dos projectos editoriais em causa. As pressões existirão sempre, mas a sustentabilidade dos projectos no mercado apenas se conseguirá com isenção e rigor. Os projectos com equipas de jornalistas bem formadas estarão acima dessas pressões até porque os leitores rapidamente perceberão se essas situações ocorrem ou não”.
Ainda assim, é da opinião que do ponto de vista do leitor não existem pressões. “Existem sim (ou não) hábitos de leituras mais ou menos diferentes. Maior destaque ao desporto (futebol e motorizado). Aposta no social. Escrita simples e directa”, refere, acrescentando que este tipo de “pressão é importante, pois muitas vezes os jornais debatem-se com a necessidade de criar hábitos de leitura nas pessoas, onde estes não existem”.

Imprensa regional: que futuro?

Quando questionado sobre o futuro da imprensa regional, Rui Paulo Lopes afirma que “a primeira mensagem é de que existe futuro e ele começa na capacidade dos jornais de adaptarem aos sinais do mercado (leitores e anunciantes). Segundo o gestor, tudo passa pela criação de “melhores jornais, com estruturas profissionais bem organizadas com o objectivo de chegar ao maior número possível de pessoas”.
Rui Paulo Lopes acredita “num movimento de concentração e possível fusão de publicações para que se criem jornais com um verdadeiro âmbito regional (diários ou semanário) com maior capacidade de desenvolver modelos de negócio profissionais”. No entanto, sublinha que “é necessário alcançar tiragens que garantam uma efectiva cobertura das regiões e consequentemente níveis de audiência superiores aos jornais nacionais”.

Testemunhos de Jornalistas


Rute Melo
28 anos
Jornalista há seis anos

O futuro passa pela imprensa regional. Na minha opinião esta será a opção dos cidadãos, uma vez que tem vindo a crescer em termos de qualidade e tem, como grande mais-valia, o facto de estar mais próximo das pessoas e das suas histórias. As histórias relatadas pelos órgãos regionais, porque são próximas do local onde o jornal tem a sua sede, despertam interesse e, por isso, atraem os leitores.


Vasco Garcia
25 anos
Jornalista há três anos

Penso que, no mundo cada vez mais globalizado em que vivemos, a imprensa regional tem hipóteses de se manter e até de se afirmar no panorama dos media. Com a Internet, as pessoas têm acesso a informação sobre o que se passa em todos os cantos do mundo. A aposta da imprensa regional deverá passar, em grande medida, pelo jornalismo de proximidade.


Lídia Pereira
42 anos
Jornalista há 15 anos


Há muito que acredito firmemente no futuro da imprensa escrita, embora alicerçada, como está a provar-se de forma avassaladora, em conteúdos que passam muito especialmente pelas novas tecnologias da informação, o que permite abordagens inovadoras e afirma de modo particular uma das mais importantes características dos jornais regionais: a da proximidade. Fundamental é não esquecer que a qualidade só é possível com redacções profissionais e dignificadas em termos de carreira e remuneração.


Gonçalo Silva
28 anos
Jornalista há dois anos e meio


A aproximação dos jornais regionais aos leitores, sempre deu, e continuará a dar, à imprensa regional uma arma de elevada importância. No futuro, essa relação terá de ser ainda mais vincada, optando os jornais por mostrarem histórias próprias, conteúdos inovadores, levando progressivamente a uma interacção cada vez maior entre a redacção e o seu “público”.


Dora Loureiro
43 anos
Jornalista há 19 anos


O futuro da imprensa regional passa necessariamente pelo jornalismo de proximidade. Este é um trunfo da imprensa regional, comprovado pelas inúmeras solicitações a este nível. Neste contexto, a eventual aprovação das regiões administrativas poderá proporcionar mais um espaço de afirmação da imprensa regional. Mais do que o espaço – regional ou nacional –, a qualidade, independência e rigor da informação são determinantes, no presente e no futuro.


Cláudia Trindade

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