A solidão de um campo verde rasgado por uma linha de caminho de ferro que parece perder-se no infinito, ou a auto-estrada que liga os centros urbanos, poderão servir de metáfora aos milhões de palavras que fazem a história da imprensa regional. De certo modo as pessoas estão lá no imaginário de libertação que as imagens, numa leitura mais atenta, oferecem como desafio temporal.
Que jornalismo é este? O fio de palavras que tece é um caminho que, à semelhança dos versos de António Machado, se faz andando, à procura de horizontes largos, descobrindo mundo, numa afirmação de liberdade que os dias foram moldando como certeza, a única certeza. Romper atavismos do meio, físicos e psicológicos, recusar o paroquialismo provinciano que gosta de viver sem ideias, combater a pobreza como fatalidade ou céu póstumo, furar o isolamento secular gerador de um atraso proverbial, reivindicar a cultura e a educação como vectores de futuro inadiável, dar voz colectiva a uma região recusando a irracionalidade de bairrismos, amplificar a voz do protesto e da indignação, são matrizes desse caminho que se faz e refaz na fidelidade à terra e ao homem. Eis, em retrato apressado, o rosto projectivo da imprensa regional, num tempo em que a proximidade e a carga identitária das regiões ganham maior peso.
Essa especificidade de saber estar próxima das pessoas a quem dá voz, essa capacidade de produzir uma narrativa informativa em que o homem como medida de tudo, é sempre primordial, esse cruzamento de olhares entre o local e o global – “a crónica de uma região à escala de um país”, como dizia o José Cardoso Pires – são o grande desafio de uma informação actualizada e actualizante.
É preciso recomeçar sempre. Quando se envolve o jornalismo em meros paramentos de poder e de negócio e a cartilha da informação olha para os problemas reais da condição humana, como arcaísmos que a modernidade não comporta, velharias fora de circulação, então fazer do jornalismo de causas o reflexo de atenção à realidade social, é uma exigência moral. Há hoje um recurso ao efémero, ao universo sensacional e menor de um certo espectáculo, mas a realidade todos os dias desmente esse vazio que uma certa narrativa informativa quer impingir como receita absoluta. Deviam meditar nas palavras intemporais de Sófocles, na Antígona: “Há muito coisa espantosa, mas nada há mais espantoso do que o homem”.
Da minha experiência pessoal, gosto de relevar a cultura como espaço fundamental da informação e de materializar uma ideia de Mário Mesquita (“O Quarto Equívoco – O Poder dos Media na Sociedade Contemporânea”): “Os jornalistas são cidadãos e só pode ser positivo que queiram adoptar uma atitude “comprometida” com os valores universais do humanismo, empenhando-se na luta contra a tirania, a violência, o racismo, a fome, a miséria, o analfabetismo e tantos outros males(…)”.
A Imprensa Regional tem historicamente um património riquíssimo, a mostrar de certo como literatura e jornalismo se cruzam em múltiplas facetas. Essa perspectiva figura na própria abordagem dos géneros jornalísticos e na forma como o meu jornal --. O “Jornal do Fundão” -- se habituou a respirar com palavras de rigor e, ao mesmo tempo, com alta expressão criadora.
Há um livro notável do escritor e jornalista Manuel Rivas, El Periodismo es un cuento, em que ele chama a atenção para um fenómeno curioso. Diz ele: “O que nunca esqueceremos dos jornais, ou da rádio e da televisão, é o que têm de literatura.” Porque, “quando têm valor, o jornalismo e a literatura servem para o descobrimento da outra verdade, do lado oculto. Para o escritor jornalista ou para o jornalista escritor a imaginação e a vontade de estilo são as asas que dão voo a esse valor. Seja um título que é um poema, uma reportagem que é um conto, ou uma coluna que é um fulgurante ensaio filosófico”.
É isso que propomos. As palavras quebram o nó da solidão. A via que rompe o campo verde é um grito de liberdade.
Recomeçar, sempre!
Exaltante esta breve experiência, no quadro da pós graduação em Imprensa Regional, uma iniciativa académica inovadora que contribuirá decerto para a própria valorização do conceito de Imprensa Regional, que bem precisa de clarificação objectiva. Um diálogo a várias vozes e, por momentos a ilusão de uma redacção, onde tudo seria feito em conjunto.
Que jornalismo é este? O fio de palavras que tece é um caminho que, à semelhança dos versos de António Machado, se faz andando, à procura de horizontes largos, descobrindo mundo, numa afirmação de liberdade que os dias foram moldando como certeza, a única certeza. Romper atavismos do meio, físicos e psicológicos, recusar o paroquialismo provinciano que gosta de viver sem ideias, combater a pobreza como fatalidade ou céu póstumo, furar o isolamento secular gerador de um atraso proverbial, reivindicar a cultura e a educação como vectores de futuro inadiável, dar voz colectiva a uma região recusando a irracionalidade de bairrismos, amplificar a voz do protesto e da indignação, são matrizes desse caminho que se faz e refaz na fidelidade à terra e ao homem. Eis, em retrato apressado, o rosto projectivo da imprensa regional, num tempo em que a proximidade e a carga identitária das regiões ganham maior peso.
Essa especificidade de saber estar próxima das pessoas a quem dá voz, essa capacidade de produzir uma narrativa informativa em que o homem como medida de tudo, é sempre primordial, esse cruzamento de olhares entre o local e o global – “a crónica de uma região à escala de um país”, como dizia o José Cardoso Pires – são o grande desafio de uma informação actualizada e actualizante.
É preciso recomeçar sempre. Quando se envolve o jornalismo em meros paramentos de poder e de negócio e a cartilha da informação olha para os problemas reais da condição humana, como arcaísmos que a modernidade não comporta, velharias fora de circulação, então fazer do jornalismo de causas o reflexo de atenção à realidade social, é uma exigência moral. Há hoje um recurso ao efémero, ao universo sensacional e menor de um certo espectáculo, mas a realidade todos os dias desmente esse vazio que uma certa narrativa informativa quer impingir como receita absoluta. Deviam meditar nas palavras intemporais de Sófocles, na Antígona: “Há muito coisa espantosa, mas nada há mais espantoso do que o homem”.
Da minha experiência pessoal, gosto de relevar a cultura como espaço fundamental da informação e de materializar uma ideia de Mário Mesquita (“O Quarto Equívoco – O Poder dos Media na Sociedade Contemporânea”): “Os jornalistas são cidadãos e só pode ser positivo que queiram adoptar uma atitude “comprometida” com os valores universais do humanismo, empenhando-se na luta contra a tirania, a violência, o racismo, a fome, a miséria, o analfabetismo e tantos outros males(…)”.
A Imprensa Regional tem historicamente um património riquíssimo, a mostrar de certo como literatura e jornalismo se cruzam em múltiplas facetas. Essa perspectiva figura na própria abordagem dos géneros jornalísticos e na forma como o meu jornal --. O “Jornal do Fundão” -- se habituou a respirar com palavras de rigor e, ao mesmo tempo, com alta expressão criadora.
Há um livro notável do escritor e jornalista Manuel Rivas, El Periodismo es un cuento, em que ele chama a atenção para um fenómeno curioso. Diz ele: “O que nunca esqueceremos dos jornais, ou da rádio e da televisão, é o que têm de literatura.” Porque, “quando têm valor, o jornalismo e a literatura servem para o descobrimento da outra verdade, do lado oculto. Para o escritor jornalista ou para o jornalista escritor a imaginação e a vontade de estilo são as asas que dão voo a esse valor. Seja um título que é um poema, uma reportagem que é um conto, ou uma coluna que é um fulgurante ensaio filosófico”.
É isso que propomos. As palavras quebram o nó da solidão. A via que rompe o campo verde é um grito de liberdade.
Recomeçar, sempre!
Exaltante esta breve experiência, no quadro da pós graduação em Imprensa Regional, uma iniciativa académica inovadora que contribuirá decerto para a própria valorização do conceito de Imprensa Regional, que bem precisa de clarificação objectiva. Um diálogo a várias vozes e, por momentos a ilusão de uma redacção, onde tudo seria feito em conjunto.
Fernando Paulouro Neves
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