Uma morte “doce e fácil”
Será mesmo a eutanásia uma forma de promover uma morte digna e humana? Que princípios éticos e morais se levantam perante a sociedade? O “J” foi à descoberta.
Ao longo dos tempos, a discussão a cerca dos valores sociais, culturais e religiosos envolvidos na questão da eutanásia têm sido abordados de diferentes maneiras, por diversos autores. Mas na maioria, este acto tem como justificação a eliminação de deficientes, pacientes terminais e portadores de doenças consideradas indesejáveis. Era era uma prática utilizada por diversos povos. Os celtas, por exemplo, tinham por hábito que os filhos matassem os seus pais quando estes estivessem velhos e doentes. Já na Índia os doentes incuráveis eram levados até a beira do rio Ganges, onde tinham as suas narinas e a boca obstruídas com o barro, sendo posteriormente atirados ao rio para morrerem.
Após o mais recente caso vindo a público, a eutanásia volta a estar em discussão em cima da mesa. Recorde-se que Eluana Englaro estava em coma irreversível desde 1992 até Dezembro último, depois do Supremo Tribunal de Itália autorizar a interrupção da alimentação artificial que mantinha a vítima viva. O fruto deste debate poderá afectar profundamente as relações familiares, a relação médico/paciente e os mais elementares princípios éticos. O “J” embarcou numa viagem à descoberta de duas realidades distintas: a vida em sociedade no mundo rural e no mundo urbano.
António Cardoso, 79 anos, nasceu numa aldeia no concelho de Montemor-o-Velho. Actualmente é viúvo, mas durante anos viveu o “desgosto” de ver a sua mulher presa a uma cama. Maria Emília Cardoso foi perdendo as forças após uma operação a um tumor no cérebro. “Os dias foram passando e com eles a vontade dela de viver”, comentou visivelmente emocionado. António cuidava todos os dias da mulher sem a ajuda de ninguém. O único filho partiu para o Luxemburgo há mais de 20 anos e nunca mais regressou. “Ela só me tinha a mim. Era eu que lhe dava o comer na boca, que lhe dava banho… e cuidava de todo o resto em casa”, relembrou.
O destino quis que Maria Emília partisse mais cedo. Morreu aos 64 anos. Contudo, se ainda estivesse viva, António Cardoso não se importava de manter a mesma rotina a cuidar da mulher. Afinal, ela era a sua companhia. Questionado pelo “J” sobre a prática da eutanásia, António Cardoso não teve dúvidas na sua resposta. “Nem pensar! Deus dá a vida, só Deus a pode tirar”, asseverou.
Um pensamento diferente tem Zulmira Valente, 69 anos, natural da Figueira da Foz. Nunca teve qualquer caso de dependência física na família, no entanto, afirma que a prática da eutanásia seria uma questão a pensar. “É obvio que depende das situações. Mas se fosse como em muitos casos de pessoas que estão vários anos em coma, penso que seria o melhor não só para o doente como também para a família. Pelo menos acabava-se de vez com o sofrimento de todos”, argumenta.
Etimologicamente, eutanásia é a expressão de uma “morte doce e fácil”. É a doutrina que permite a antecipação da morte de doentes incuráveis, para lhes poupar os sofrimentos da agonia. Actualmente, utiliza-se o termo eutanásia para designar tanto a eutanásia propriamente dita como o suicídio assistido. Quer isto dizer que, é aplicado quando uma pessoa mata directamente outra, é o caso de quando um médico dá uma injecção letal a um paciente. Por outro lado, recorre-se ao termo suicídio assistido quando uma pessoa ajuda outra a matar-se a si própria, por exemplo, quando uma pessoa põe no paciente uma máscara ligada a uma botija de monóxido de carbono e lhe dá instruções sobre como ligar o gás de forma a provocar a morte.
Entretanto, existem situações que devem ser distinguidas da eutanásia. Se a aplicação de analgésicos, sedativos ou narcóticos empregues apenas para aliviar o sofrimento causarem a morte não é considerado um caso de eutanásia, pois esse fim não é procurado. Surge antes como consequência não desejável. Também diferente de eutanásia, é a distanásia, ou seja, processo pelo qual se retarda o mais possível o momento da morte dos pacientes, mesmo sabendo que as hipóteses de cura são nulas. Estes casos acontecem apenas em situações extremas, nomeadamente, por motivos familiares (herança), políticos (como chefes de governo), entre outros.
Em Portugal, tal como em muitos outros países, a eutanásia não é permitida e continua a dividir opiniões. Deve alguém arrogar-se do poder de decidir quem deve viver e quem deve morrer? Esta é uma questão ética que, por enquanto, continuará em aberto.
Diana Claro
Será mesmo a eutanásia uma forma de promover uma morte digna e humana? Que princípios éticos e morais se levantam perante a sociedade? O “J” foi à descoberta.
Ao longo dos tempos, a discussão a cerca dos valores sociais, culturais e religiosos envolvidos na questão da eutanásia têm sido abordados de diferentes maneiras, por diversos autores. Mas na maioria, este acto tem como justificação a eliminação de deficientes, pacientes terminais e portadores de doenças consideradas indesejáveis. Era era uma prática utilizada por diversos povos. Os celtas, por exemplo, tinham por hábito que os filhos matassem os seus pais quando estes estivessem velhos e doentes. Já na Índia os doentes incuráveis eram levados até a beira do rio Ganges, onde tinham as suas narinas e a boca obstruídas com o barro, sendo posteriormente atirados ao rio para morrerem.
Após o mais recente caso vindo a público, a eutanásia volta a estar em discussão em cima da mesa. Recorde-se que Eluana Englaro estava em coma irreversível desde 1992 até Dezembro último, depois do Supremo Tribunal de Itália autorizar a interrupção da alimentação artificial que mantinha a vítima viva. O fruto deste debate poderá afectar profundamente as relações familiares, a relação médico/paciente e os mais elementares princípios éticos. O “J” embarcou numa viagem à descoberta de duas realidades distintas: a vida em sociedade no mundo rural e no mundo urbano.
António Cardoso, 79 anos, nasceu numa aldeia no concelho de Montemor-o-Velho. Actualmente é viúvo, mas durante anos viveu o “desgosto” de ver a sua mulher presa a uma cama. Maria Emília Cardoso foi perdendo as forças após uma operação a um tumor no cérebro. “Os dias foram passando e com eles a vontade dela de viver”, comentou visivelmente emocionado. António cuidava todos os dias da mulher sem a ajuda de ninguém. O único filho partiu para o Luxemburgo há mais de 20 anos e nunca mais regressou. “Ela só me tinha a mim. Era eu que lhe dava o comer na boca, que lhe dava banho… e cuidava de todo o resto em casa”, relembrou.
O destino quis que Maria Emília partisse mais cedo. Morreu aos 64 anos. Contudo, se ainda estivesse viva, António Cardoso não se importava de manter a mesma rotina a cuidar da mulher. Afinal, ela era a sua companhia. Questionado pelo “J” sobre a prática da eutanásia, António Cardoso não teve dúvidas na sua resposta. “Nem pensar! Deus dá a vida, só Deus a pode tirar”, asseverou.
Um pensamento diferente tem Zulmira Valente, 69 anos, natural da Figueira da Foz. Nunca teve qualquer caso de dependência física na família, no entanto, afirma que a prática da eutanásia seria uma questão a pensar. “É obvio que depende das situações. Mas se fosse como em muitos casos de pessoas que estão vários anos em coma, penso que seria o melhor não só para o doente como também para a família. Pelo menos acabava-se de vez com o sofrimento de todos”, argumenta.
Etimologicamente, eutanásia é a expressão de uma “morte doce e fácil”. É a doutrina que permite a antecipação da morte de doentes incuráveis, para lhes poupar os sofrimentos da agonia. Actualmente, utiliza-se o termo eutanásia para designar tanto a eutanásia propriamente dita como o suicídio assistido. Quer isto dizer que, é aplicado quando uma pessoa mata directamente outra, é o caso de quando um médico dá uma injecção letal a um paciente. Por outro lado, recorre-se ao termo suicídio assistido quando uma pessoa ajuda outra a matar-se a si própria, por exemplo, quando uma pessoa põe no paciente uma máscara ligada a uma botija de monóxido de carbono e lhe dá instruções sobre como ligar o gás de forma a provocar a morte.
Entretanto, existem situações que devem ser distinguidas da eutanásia. Se a aplicação de analgésicos, sedativos ou narcóticos empregues apenas para aliviar o sofrimento causarem a morte não é considerado um caso de eutanásia, pois esse fim não é procurado. Surge antes como consequência não desejável. Também diferente de eutanásia, é a distanásia, ou seja, processo pelo qual se retarda o mais possível o momento da morte dos pacientes, mesmo sabendo que as hipóteses de cura são nulas. Estes casos acontecem apenas em situações extremas, nomeadamente, por motivos familiares (herança), políticos (como chefes de governo), entre outros.
Em Portugal, tal como em muitos outros países, a eutanásia não é permitida e continua a dividir opiniões. Deve alguém arrogar-se do poder de decidir quem deve viver e quem deve morrer? Esta é uma questão ética que, por enquanto, continuará em aberto.
Diana Claro
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