sábado, 25 de abril de 2009

Rádios Locais e Jornais Regionais

Redacções com poucos licenciados

Embora existam centenas de diplomados em Comunicação Social, formados na Escola Superior de Educação de Viseu, poucos encontraram emprego nas rádios e jornais regionais. Uma realidade que pode vir a ser alterada.
Quinze anos após a criação do Curso de Comunicação Social na Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV) do Instituto Politécnico são poucos os licenciados que encontraram trabalho nas rádios locais e jornais regionais do distrito.
Dos que desempenham funções na área da comunicação social a maior percentagem está nas redacções dos jornais.
Nas rádios locais, o número de empresas com licenciados em Jornalismo ou Comunicação Social, ronda os 31 por cento, enquanto que na imprensa é o dobro, 64 por cento.
A percentagem de licenciados nas redacções desce para metade se for tido em conta o total de colaboradores. Nas rádios baixa para os 12,8 por cento e nos jornais para 48 por cento.
A realidade mostra que as rádios locais têm cada vez com menos colaboradores, já que os meios informáticos podem garantir a emissão autonomamente. É possível uma única pessoa assegurar a programação durante 24 horas, parecendo uma emissão em directo. A “playlist”, sequência de músicas transmitidas ao longo dia, é gerada automaticamente pelo computador. As intervenções do locutor também podem ser gravadas, sendo transmitas à hora pretendida. O mesmo acontece com a publicidade e os sinais horários.
Este é um “truque” também utilizado por algumas rádios nacionais, principalmente as que têm uma programação essencialmente musical.
Para o director da Rádio Clube de Lamego, professor primário aposentado, os licenciados não são para as rádios locais. “Não temos dinheiro para lhes pagar”, explica.
Todos os responsáveis das rádios que foram contactados queixam-se que os tempos são de grande contenção. O mercado publicitário “está cada vez pior” e essa é a principal, se não a única, fonte de receita das rádios.
Porém, as estações que apostam na informação local e regional não podem abdicar de ter colaboradores permanentes afectos à redacção.
O computador ainda não faz as notícias, nem vai à rua fazer reportagem, referem alguns dos jornalistas que trabalham nas rádios locais.



Rádios com poucos canudos


Além das questões financeiras, que impedem a contratação de novos colaboradores, o número reduzido de licenciados nas rádios pode também ser explicado com o facto de muitas trabalharem ainda com os “entusiastas” das rádios piratas, responsáveis, na década de 80, pelo movimento que levou à legalização das rádios locais.
Na altura os jovens quando entravam para a rádio ganhavam o “bichinho”, formavam-se como autodidactas e por lá permaneceram, valendo-se da experiência e da prática.
Hoje quem agora bate à porta das rádios são os jovens que acabaram o curso de Comunicação Social ou Jornalismo e querem fazer um estágio curricular ou profissional. Foi o caso de Ricardo Ferreira, a trabalhar na Rádio Vouzela. Quando terminou o curso na ESEV, fez um estágio curricular, de três meses, na Rádio NOAR em Viseu. “ Foi aí que aprendi a ser jornalista”, realça.
O estágio curricular abriu-lhe depois a porta para um estágio profissional do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), na Rádio Vouzela, onde hoje é funcionário do quadro.
Trabalha com dois colegas, mais antigos na casa, que não têm curso superior.
Não ganha mais por ter um “canudo”.
“O curso é bom para entrar na profissão, através dos estágios profissionais., mas depois somos como os outros”, refere.
Tendo em conta os cerca de 40 colegas de curso, Ricardo Ferreira pode considerar-se quase uma excepção. A maioria não está a trabalhar na área para a qual se formou.
Cerca de 5 por cento ainda estão desempregados. Os que estão a trabalhar a maioria só encontrou emprego no comércio. Dois desempenham funções em gabinetes de assessoria de imprensa e outros dois são jornalistas.

As empresas têm receio dos licenciados

Percurso inverso fez Pedro Pontes. Já estava na área, trabalhava numa rádio local quando há três anos se matriculou no Curso de Comunicação Social. Hoje desenvolve, por conta própria, actividade na área da assessoria de imprensa e imagem junto de empresas e municípios. Dos colegas que acabaram o curso em Junho (cerca de 40), a quase totalidade está desempregada ou emigrou. Dois encontram-se a fazer estágio.
Pedro Pontes diz que a licenciatura “não promove” quem já está no ramo e considera que até poder contribuir para que as empresas afastem estes profissionais aos quais não querem pagar mais pelo facto de serem licenciados.
Lamenta o sistema e o “círculo vicioso”, onde as empresas promovem sucessivos estágios profissionais, mas não criam emprego.
Uma situação que leva muitos recém-licenciados a “ quase pagarem para trabalharem de borla, para ganharem currículo”, refere.
Considera que os alunos de comunicação social ou jornalismo são enganados ao tirarem um curso para uma profissão à qual se pode aceder sem qualquer tipo de formação académica.
“ Gostava de ser médico, ou professor, mas não posso porque não tenho formação nessa área”, exemplifica com ironia.


Jornais com mais canudos e carteiras profissionais

Nas redacções dos jornais regionais para além de se encontrar uma maior percentagem de licenciados em jornalismo e comunicação social, há também uma outra diferença em relação às rádios. A maior dos colaboradores que faz informação nos jornais tem Carteira Profissional de Jornalista.
Uma situação para a qual deve ter contribuído, o Decreto-Lei n.º 56/2001, que regulamenta a atribuição de porte pago às publicações e que obriga as empresas a terem funcionários no quadro e jornalistas.
Nas rádios a realidade é muito diferente encontrando-se ainda muitos colaboradores que fazem notícias sem terem Carteira Profissional de Jornalista, contrariando as normas legais. O artigo 40 da Leia da Rádio diz que os serviços noticiosos, bem como as funções de redacção, são obrigatoriamente assegurados pelos jornalistas ou equiparados.A ausência de fiscalização no sector é umas das razões apontadas, por quem trabalha na rádio, para que a lei não seja cumprida.
Em muitas estações existem profissionais que para além de fazerem informação também vendem e gravam publicidade, atropelando as regras deontológicas a que a profissão está obrigada.

Estudo sobre empregabilidade


CANANUDO NÃO AUMENTA OS SALÁRIOS


Luís Nuno Sousa, Professor na Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV) fez um estudo, para um tese de mestrado, sobre “Processo(s) de transição para o trabalho : o caso dos diplomados em Comunicação Social “.
A análise teve por base os alunos que frequentaram e terminaram os cursos entre os anos de 1994 e 2000.
Em 84 casos identificados foi possível observar 70, sendo metade estudantes a tempo inteiro e a outra metade trabalhadores-estudantes.
Um dos objectivos do estudo era analisar de que forma decorreu a integração profissional e respectivos percursos profissionais.
Entre os que procuraram o primeiro emprego após terminarem o curso, quase metade, (46,7 por cento) diz estar a exercer uma actividade de acordo com a formação superior recebida. Trata-se de um resultado que o Professor da ESEV, autor do estudo, considerou “satisfatória “, embora os empregos tenham uma remuneração “baixa”, referiu, sem especificar.
Quanto ao trabalhadores estudantes, só 22,9 por cento desempenhavam funções em áreas ligadas ao curso, sendo que 51,4 por cento eram funcionários em serviços de instituições públicas e privados.
Após a conclusão do curso só um dos inquiridos disse ter melhorado o salário, mantendo o mesmo emprego.
Vinte continuaram no mesmo local de trabalho e com o mesmo ordenado. Oito permaneceram no mesmo emprego , mudando de categoria profissional, não sendo especificando se tiveram ou não melhoria salarial. Quatro mudaram de profissão.
O estudo diz confirmar o “imobilismo” e que o acesso ao diploma do curso superior “não influencia” a situação profissional já existente.


António Figueiredo


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