sábado, 25 de abril de 2009

Uma inovadora pós-graduação…


1. O simpático convite de Joaquim Santos, director desta publicação, leva-me a escrever algumas palavras neste vosso jornal. É com enorme gosto que o faço, não só por estar a contribuir para um produto decorrente de uma das disciplinas da Pós-Graduação em Imprensa Regional, mas também por sentir que, na qualidade de Coordenadora da referida Pós-Graduação, é meu dever deixar um testemunho que, embora modesto, não deixa de ilustrar o meu empenho neste Curso.
De facto, a Pós-Graduação em Imprensa Regional resulta, como se sabe, de uma conjugação de sinergias entre o Grupo Sojormedia, o maior grupo de imprensa regional do país, e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
No ano de 2006 / 2007 foi realizada uma auscultação prévia aos media de comunicação regionais que resultou no levantamento de um conjunto de carências na formação dos profissionais deste meio. Assim, a proposta da Sojormedia, no sentido de criar esta pós-graduação, foi acolhida com entusiasmo pela Faculdade de Letras, nomeadamente pelo seu Instituto de Estudos Jornalísticos.
Em primeiro lugar, porque este Instituto já marcara a História do ensino da Comunicação em Portugal, ao criar, há pouco mais de uma dezena de anos, a primeira licenciatura em Jornalismo; em segundo lugar, porque as chefias da Faculdade, a Direcção do Instituto e eu própria consideramos ser uma das funções obrigatórias da Universidade, no presente contexto, promover uma formação ao longo da vida que capacite os profissionais das diversas áreas, actualizando-os e reciclando os seus conhecimentos, tendo em conta a vertiginosa mudança da sociedade contemporânea, em todos os domínios do saber; por último, mas não menos importante, esta proposta da Sojormedia foi entendida, no âmbito da abertura da Universidade de Coimbra ao mundo exterior e empresarial, como mais um desafio inovador.
2. Ora, foi precisamente deste modo que o Instituto de Estudos Jornalísticos entendeu empenhar-se na primeira edição desta Pós-Graduação que em breve terminará. Este empenho traduziu-se sobretudo pela dinamização de um conjunto de instrumentos científico-pedagógicos que, aliados à parceria da Sojormedia, tornaram possível levar a bom porto este primeiro ano do Curso. Coube, assim, ao Instituto a responsabilidade científica de tutelar a componente científico-pedagógica do Curso, bem como dinamizar ao longo do ano o seu funcionamento que, por razões de diversa ordem, é inovador e diferente.
Na verdade, um dos desafios que enfrentámos residiu precisamente no carácter renovador desta Pós-Graduação que a distingue, em inúmeros aspectos, de outros cursos afins. A começar pela diversidade do seu curriculum, constituído por diversos tipos de módulos didácticos, passando pelo seu público-alvo, essencialmente jornalistas, ou seja, profissionais para quem a frequência de um curso desta natureza constituiu um esforço acrescido, até à variedade de proveniência e formação dos seus docentes, a primeira Pós-Graduação em Imprensa Regional do país constituiu para quem nela esteve envolvido um difícil mas gratificante desafio.
De facto, uma das mais-valias deste Curso reside, na minha opinião, na heterogeneidade curricular: os alunos puderam contactar com um conjunto muito diferenciado de disciplinas, seminários e conferências, através dos quais contactaram com realidades científicas, profissionais e técnicas muito díspares que formaram um conjunto compósito, indo ao encontro de um vasto leque de lacunas sentidas pelos profissionais da imprensa regional. Além do mais, o contacto com um corpo docente, maioritariamente constituído por profissionais do meio, externos à Faculdade, também proporcionou aos nossos estudantes uma formação ecléctica que aliou idealmente teoria e prática, conhecimento e reflexão, discussão e exercício crítico.
Tudo isto foi, estou certa, conseguido através do enorme envolvimento da Faculdade de Letras e do Instituto de Estudos Jornalísticos, apesar de algumas vozes dissonantes, por vezes, não o terem entendido desta forma. Cumpre-me, portanto, fazer justiça a alguns dos elementos-chave, sem os quais esta Pós-Graduação não se teria concretizado: o permanente e aberto diálogo com o senhor Presidente do Conselho Directivo, que sempre se mostrou extremamente disponível para nos auxiliar e orientar; o empenho da Senhora Directora do Instituto a quem se deve a construção dos pilares deste Curso; a solidariedade das colegas da Comissão Científica de Grupo, sempre prontas a resolver pontuais problemas científico-pedagógicos; o dinamismo e sentido de responsabilidade da Dra. Manuela Santos que sempre esteve presente na pronta resolução de aspectos logísticos e burocráticos; finalmente, o empenho dos colegas que, quer como docentes, quer como interlocutores, sempre alimentaram e acarinharam este Curso. Não se trata aqui de promover um auto-elogio (que não cairia bem, nem faria sentido), trata-se sim de, ao fazer o balanço possível desta primeira edição, reconhecer os esforços de quem nela colaborou.
3. Para terminar gostaria ainda de salientar que o Instituto de Estudos Jornalísticos sempre encarou esta Pós-Graduação como um curso em que se deveria apostar, mantendo o equilíbrio entre o desejável rigor científico que a Academia requer e as necessidades práticas do nosso público-alvo, formado essencialmente por jornalistas de imprensa regional.
Não sendo nem jornalista, nem especialista em Imprensa Regional, reconheço, no entanto, que, tal como tantos outros profissionais do jornalismo e da comunicação, os profissionais dos media regionais enfrentam dilemas e problemas de diversa ordem. Na actual conjuntura, o desemprego e instabilidade profissionais, os baixos salários, o desequilíbrio entre forças externas, directores, editorias e jornalistas são problemas que de facto requerem uma reflexão séria e aprofundada. Naturalmente que a minha utopia não me leva a pensar que uma Pós-Gradução se presta à resolução de todas estas carências.
No entanto, se, através dela, os nossos jornalistas – estudantes conseguirem aprender a reflectir sobre as questões críticas que envolvem a prática muito específica do jornalismo regional; se ela lhes possibilitar a consolidação de um conjunto de conhecimentos sólidos e úteis; se ela conseguir promover uma reflexão séria sobre as temáticas deontológicas, éticas, legais inerentes à profissão; finalmente, se esta Pós-Graduação tiver deixado espaço para as dúvidas e para o questionamento… já valeu a pena todo o esforço. Tanto da nossa parte, como da parte dos nossos alunos.



Prof. Doutora Ana Teresa Peixinho
(Coordenadora da Pós-Graduação em Imprensa Regional)

Por uma imprensa regional rigorosa e independente

Recordo-me do período em que os jornalistas da Imprensa Regional eram considerados “profissionais de segunda”.
Recordo-me das vezes em que procurei ter acesso a algumas fontes de informação e de que isso me foi negado por ser jornalista da Imprensa Regional.
Também me recordo de como tudo mudou quando passei a ser correspondente de um órgão de informação nacional.
E recordo-me de ter prometido fazer o que estivesse ao meu alcance para mudar essa forma obtusa de olhar para um sector que tem um papel fundamental na afirmação da identidade das populações.
A pós-graduação em Imprensa Regional veio preencher uma lacuna existente na nossa oferta formativa. O sector tem características e necessidades próprias e carece, por isso, de formação especializada.
Esta pós-graduação reveste-se da maior importância, sobretudo numa época de grandes transformações, como a que atravessamos. É preciso modernizar a comunicação social regional e dar-lhe saúde financeira para que possa ser independente e credível.
Esta foi a primeira formação pós-graduada em Imprensa Regional no nosso país. O lançamento deste curso só foi possível graças ao envolvimento da Sojormedia e à abertura e colaboração da Universidade de Coimbra, através da sua Faculdade de Letras e do seu Instituto de Estudos Jornalísticos.
A formação dos profissionais da Imprensa Regional deve ser uma preocupação permanente das empresas que operam no sector. É nossa convicção que a informação de qualidade só pode vir de profissionais qualificados, empresas financeiramente equilibradas e com planeamento estratégico assente nas necessidades dos clientes (leitores e anunciantes).
Com este curso, estamos profundamente convencidos de estar a contribuir para uma Imprensa Regional rigorosa, independente e moderna.


Francisco Rebelo dos Santos
Administrador da Sojormedia

Recomeçar, sempre!

A solidão de um campo verde rasgado por uma linha de caminho de ferro que parece perder-se no infinito, ou a auto-estrada que liga os centros urbanos, poderão servir de metáfora aos milhões de palavras que fazem a história da imprensa regional. De certo modo as pessoas estão lá no imaginário de libertação que as imagens, numa leitura mais atenta, oferecem como desafio temporal.
Que jornalismo é este? O fio de palavras que tece é um caminho que, à semelhança dos versos de António Machado, se faz andando, à procura de horizontes largos, descobrindo mundo, numa afirmação de liberdade que os dias foram moldando como certeza, a única certeza. Romper atavismos do meio, físicos e psicológicos, recusar o paroquialismo provinciano que gosta de viver sem ideias, combater a pobreza como fatalidade ou céu póstumo, furar o isolamento secular gerador de um atraso proverbial, reivindicar a cultura e a educação como vectores de futuro inadiável, dar voz colectiva a uma região recusando a irracionalidade de bairrismos, amplificar a voz do protesto e da indignação, são matrizes desse caminho que se faz e refaz na fidelidade à terra e ao homem. Eis, em retrato apressado, o rosto projectivo da imprensa regional, num tempo em que a proximidade e a carga identitária das regiões ganham maior peso.
Essa especificidade de saber estar próxima das pessoas a quem dá voz, essa capacidade de produzir uma narrativa informativa em que o homem como medida de tudo, é sempre primordial, esse cruzamento de olhares entre o local e o global – “a crónica de uma região à escala de um país”, como dizia o José Cardoso Pires – são o grande desafio de uma informação actualizada e actualizante.
É preciso recomeçar sempre. Quando se envolve o jornalismo em meros paramentos de poder e de negócio e a cartilha da informação olha para os problemas reais da condição humana, como arcaísmos que a modernidade não comporta, velharias fora de circulação, então fazer do jornalismo de causas o reflexo de atenção à realidade social, é uma exigência moral. Há hoje um recurso ao efémero, ao universo sensacional e menor de um certo espectáculo, mas a realidade todos os dias desmente esse vazio que uma certa narrativa informativa quer impingir como receita absoluta. Deviam meditar nas palavras intemporais de Sófocles, na Antígona: “Há muito coisa espantosa, mas nada há mais espantoso do que o homem”.
Da minha experiência pessoal, gosto de relevar a cultura como espaço fundamental da informação e de materializar uma ideia de Mário Mesquita (“O Quarto Equívoco – O Poder dos Media na Sociedade Contemporânea”): “Os jornalistas são cidadãos e só pode ser positivo que queiram adoptar uma atitude “comprometida” com os valores universais do humanismo, empenhando-se na luta contra a tirania, a violência, o racismo, a fome, a miséria, o analfabetismo e tantos outros males(…)”.
A Imprensa Regional tem historicamente um património riquíssimo, a mostrar de certo como literatura e jornalismo se cruzam em múltiplas facetas. Essa perspectiva figura na própria abordagem dos géneros jornalísticos e na forma como o meu jornal --. O “Jornal do Fundão” -- se habituou a respirar com palavras de rigor e, ao mesmo tempo, com alta expressão criadora.
Há um livro notável do escritor e jornalista Manuel Rivas, El Periodismo es un cuento, em que ele chama a atenção para um fenómeno curioso. Diz ele: “O que nunca esqueceremos dos jornais, ou da rádio e da televisão, é o que têm de literatura.” Porque, “quando têm valor, o jornalismo e a literatura servem para o descobrimento da outra verdade, do lado oculto. Para o escritor jornalista ou para o jornalista escritor a imaginação e a vontade de estilo são as asas que dão voo a esse valor. Seja um título que é um poema, uma reportagem que é um conto, ou uma coluna que é um fulgurante ensaio filosófico”.
É isso que propomos. As palavras quebram o nó da solidão. A via que rompe o campo verde é um grito de liberdade.
Recomeçar, sempre!

Exaltante esta breve experiência, no quadro da pós graduação em Imprensa Regional, uma iniciativa académica inovadora que contribuirá decerto para a própria valorização do conceito de Imprensa Regional, que bem precisa de clarificação objectiva. Um diálogo a várias vozes e, por momentos a ilusão de uma redacção, onde tudo seria feito em conjunto.


Fernando Paulouro Neves

Um sonho tornado realidade

Começou pelo voluntariado na Associação de Protecção Animal da Figueira da Foz (APAFF), contribuindo para minimizar as situações de abandono vividas por aqueles que são considerados ‘o fiel amigo do homem’.
Como não podia só desenvolver trabalho de voluntariado, por questões de sobrevivência, Lara Teunissen correu atrás dos seus sonhos, que a levaram até Amesterdão, à Greenpeace Internacional.
Este voo até ao “país das flores” não foi directo. Fez escala em Espanha, passou pelo Rio Guadiana e só depois aterrou em Amesterdão. Mas, para esta jovem figueirense, este voo têm um regresso marcado a Portugal. Só não sabe quando.
Aos 25 anos de idade, Lara Teunissen desenvolve um trabalho que alia as suas duas áreas de interesse: comunicação e ambiente.

Ao longo da sua vida a preocupação na defesa e protecção dos animais e do meio ambiente sempre foram uma constante. De que forma estas questões integram o seu percurso pessoal/profissional?

Costumo dizer que sou activista por natureza. Comecei a ser activista em pequenina. O activismo é uma maneira de estar na vida, é o estarmos atentos às coisas que acontecem à nossa volta e termos a percepção de poder alterá-las, de poder melhorar a realidade com que convivemos e isso pode acontecer de várias formas. Sempre tive intenção de fazer do meu trabalho um trabalho activo nestas áreas, que tivesse resultados práticos em termos de defesa do ambiente, defesa e protecção dos direitos dos animais. E era muito difícil para mim, na altura em que acabei o curso, estar em Portugal e aliar os meus dois lados: por um lado a comunicação, que me fascina, e por outro o trabalho de campo, o activismo directo. O que percebi foi que em Portugal não conseguia arranjar instituições que apoiassem este tipo de trabalho. Elas existem, mas numa escala mais reduzida e acabava por ser complicado, em início de carreira, ter logo essa possibilidade… A minha mãe costumava até dizer que o meu companheiro teria de fazer muito dinheiro porque eu ia dedicar-me ao voluntariado o resto da minha vida… Como isso não é possível, comecei a ver alternativas diferentes e a Greenpeace era um local onde sempre tinha ‘sonhado’ trabalhar. Fascinava-me o facto de ter tantos recursos para poder trabalhar e, como também já trabalhava com a Associação Protecção Animal da Figueira da Foz, adorava a ideia de conseguir aliar as duas áreas no mesmo trabalho… e acima de tudo sentir que o meu trabalho diário tem efeitos reais nas coisas que acredito que precisam de ser feitas.


Mas até chegar à Greenpeace Internacional houve um percurso a percorrer…

Em 2001 fui estudar para Coimbra, Ciências da Informação, e acabei por seguir a vertente de comunicação social.
Sabia que queria trabalhar na área de comunicação mas não tinha definido ao certo o tipo de trabalho que queria fazer: se seria Relações Públicas, Marketing, Relações Internacionais ou Jornalismo. Dentro das minhas prioridades o Jornalismo era o que estava mais apagado, mas acabou por ser aquele que me fascinou mais e o que me fez continuar na área de comunicação.

O seu trabalho final de curso esteve ligado à área do ambiente e ao Jornalismo on-line. Essa passagem por esta área do jornalismo ficou por aqui ou prosseguiu?

Quando terminei a licenciatura, e como o curso passou a ser de quatro anos e não de cinco, aproveitei o último ano para fazer um mestrado em Jornalismo e Comunicação On-Line no Instituto Universitário Pós Grado, em Espanha.
Na altura fascinaram-me as possibilidades que o on-line oferecia, porque ao contrário do jornalismo de imprensa e do jornalismo televisivo, em que as agendas estão muito preenchidas e em que é muito difícil trazer temas alternativos – como o ambiente –, que não sejam tão políticos e tão mediáticos, o on-line oferece esse espaço através do jornalismo de investigação. Após ter terminado o mestrado fiquei um pouco parada, a pensar o que iria fazer…

E o que pensou?

Comecei a enviar uns currículos para jornais na zona de Coimbra, mas não estava motivada… até ao dia em que me cruzei com a possibilidade de fazer um estágio na Greenpeace Internacional, na Holanda. Enviei o meu currículo, com todos os meus amigos a dizerem-me que seria uma aposta muito arriscada, que eu estava a olhar muito longe. Mas eu pensava: “por que não há-de um dos currículos escolhidos ser o meu?”. Infelizmente, na altura, não consegui, mas entretanto fui contactada pela Greenpeace de Espanha que, não tendo um estágio para oferecer, tinha uma campanha que ia centrar-se no Rio Guadiana e precisava de alguém que trabalhasse com os media portugueses. Estive um mês e meio a trabalhar com eles em Espanha, e conheci pessoas fantásticas, jornalistas, ambientalistas… foi uma experiência muito positiva.

Ao regressar à sua terra natal houve necessidade de “repensar” o que iria fazer…

Quando voltei para Portugal, voltei a enviar o meu currículo, desta vez para a Unidade Política da Greenpeace Internacional em Bruxelas, que trabalha directamente com a Comissão Europeia, e fui aceite. Estive cinco meses em 2007 a fazer lá um estágio. Foi muito diferente da experiência de Espanha, porque essa foi mesmo um trabalho de campo, que consistiu em seguir o rio, apresentar todo o trabalho que tinha sido desenvolvido às pessoas, alertar para os níveis de poluição, apresentar as soluções possíveis em cada uma das etapas. Na Greenpeace em Bruxelas era um trabalho muito mais de lobby directo, muito mais formal, ou seja, acabava por ser muito diferente, mas muito interessante.

E depois de mais essa experiência?

Entretanto acabou o estágio e eles não tinham uma posição fixa em que eu pudesse ficar e voltei para Portugal, a pensar mais uma vez o que iria fazer da minha vida… e, curiosamente, foi nessa altura que me contactaram da Greenpeace Internacional, para saber se eu não estaria interessada em ir trabalhar com eles para Amesterdão, como estagiária, com a possibilidade de poder ficar lá a trabalhar com eles. Parecia um sonho, porque foi o sítio para onde eu tinha enviado o meu currículo a primeira vez! Fiquei muito contente e aceitei. Em Agosto de 2007 fui trabalhar para o departamento de comunicação como estagiária. O meu estágio prolongava-se até ao final de Janeiro mas em Dezembro ofereceram-me uma posição como Assistente de Comunicação e aceitei! Acabei por ficar porque entretanto o meu namorado foi comigo e foi mais fácil aceitar uma posição permanente. Já lá estou há um ano e meio.

Conseguir aliar, em termos profissionais, as suas duas áreas de interesse, Ambiente e Comunicação, foi um sonho tornado realidade?

Sim, sem dúvida. Trabalhar no Departamento de Comunicação da Greenpeace Internacional foi um sonho tornado realidade. Mas não escondo que o meu grande sonho é poder desenvolver esse trabalho em Portugal, trabalhando em assuntos que me dizem directamente respeito, porque sinto essa proximidade e tenho mesmo vontade de trabalhar em Portugal.

Actualmente, qual o trabalho que desenvolve na Greenpeace?

Estou como especialista de relações com os media ao nível internacional. Faço assessoria de imprensa, dou assistência aos escritórios locais. Temos 40 escritórios espalhados pelo mundo, e a coordenação da comunicação é feita através de nós. Damos apoio a todos eles consoante as necessidades de cada um, como a divulgação de histórias locais. O meu trabalho passa pela assessoria de imprensa, pelo encaminhamento para os nossos técnicos e equipa de investigação, dependendo do assunto a tratar, e de ser de interesse local, nacional ou mesmo internacional.
Asseguro também o serviço de emergência “On Call”, porque temos sempre alguém que fica responsável para o caso de acontecer alguma catástrofe, alguma situação em que haja necessidade de resposta imediata, alguém estar de serviço para poder fazê-lo.
É um escritório que tem muitos recursos para uma organização não governamental. No entanto, acaba por não ser suficiente para o trabalho que temos. Nesse sentido, acabamos por fazer um pouco de tudo.

Contacta com realidades ambientais de vários pontos do mundo. Nesse sentido, como está Portugal comparativamente a outros países do globo?

Temos organizações não governamentais e associações de defesa do ambiente muito competentes e extremamente activas, mas falta muita projecção. Falta o apoio das pessoas para estas organizações terem poder real… porque estes trabalhos, ao contrário da indústria, não têm um fim lucrativo… como tal, precisam mesmo de ter o apoio da sociedade para poderem trabalhar. Em Portugal as pessoas ainda são pouco sensíveis nesse sentido, o que faz com que estas associações tenham alguma dificuldade de implementação em Portugal.
Tenciono, sempre, vir fazer a minha ‘obra’, isto é, construir a minha obra em Portugal, mas neste momento é muito bom para mim poder aproveitar esta experiência. Acaba por ser uma aprendizagem, para depois poder vir para Portugal e trabalhar activamente. Começar em Portugal é difícil, mas assim que uma pessoa já tenha autonomia para trabalhar sozinha, com ideias mais formadas, há imensas coisas que podem ser feitas cá.

Já há uma Greenpeace Portugal. Como é?

Nós abrimos há pouco tempo o escritório português. A Greenpeace Portugal é um escritório virtual porque não temos recursos para ter um escritório sedeado cá. As pessoas que trabalham para a Greenpeace Portugal estão em Amesterdão, mas o foco de todo o trabalho está direccionado para Portugal. Actualmente, estamos a dinamizar a campanha do Peixe Sustentável, que passa pelo combate à pesca ilegal. Alertar a população portuguesa – que é das que consome mais peixe comparativamente com o resto da Europa – para os locais de origem do peixe que consomem, alertar os consumidores para o facto de existirem espécies em extinção que nós consumimos diariamente sem termos noção de que estamos a pôr em risco os ‘stocks’ mundiais destas espécies… Como não há alerta da parte da indústria, ou seja, a própria indústria não está a zelar pelos interesses das gerações futuras mas unicamente pelo interesse económico nacional, este nosso trabalho acaba por ser importante. Nesse sentido, estamos a desenvolver essa campanha há cerca de um ano e temos cada vez mais activistas. Tivemos uma apresentação da campanha no Rock in Rio Lisboa, ligada também aos problemas das alterações climáticas, e posso dizer que em cinco dias conseguimos cinco mil ciber-acativistas dispostos a trabalhar connosco e a apoiar a causa. Esta situação levou-me a acreditar, ainda mais, que é bem possível que a Greenpecae se instale em Portugal de uma forma mais permanente e mais alargada, através de novas campanhas.

Nos dias de hoje acha que os meios de comunicação social estão despertos para as questões ambientais? É dada a visibilidade que a Greenpeace pretende?

Cada vez mais. Os órgãos de comunicação nacionais já começam a ter secções destinadas exclusivamente ao meio ambiente e que são alimentadas em muito por notícias que são divulgadas por Organizações Não Governamentais, que lançam os alertas. No entanto, as agendas são sempre limitadas e acaba por se dar prioridade, lamentavelmente, a coisas como o futebol, em detrimento de problemas ambientais, que dizem respeito a todos. Mas são pequenos passos que se vão dando. A projecção é cada vez maior e a preocupação por parte das pessoas também tem aumentado. A exigência do público – para os meios de comunicação incluírem nas suas agendas as questões ambientais, protecção e defesa dos direitos dos animais – é cada vez maior.

Que desafios para a Greenpeace tem Portugal?

Em Portugal, tendo só esta campanha e estando as pessoas ainda sedeadas em Amesterdão por falta de recursos, acaba por ser difícil estar atento e divulgar assuntos mais locais. Temos recebido imensos pedidos de ajuda por parte de câmaras municipais e outras instituições, mas não temos meios de dar resposta a este tipo de pedidos. Temos uma campanha muito centrada no peixe sustentável e, neste momento, é esse o nosso foco de atenção, acabando por ir para aí os nossos recursos disponíveis.
Mas quantos mais apoios tivermos, mais possibilidade há alargar esse leque e abrir as nossas campanhas a outras questões.

Texto e Foto: Raquel Vieira

IMPRENSA REGIONAL

“Veículo de comunicação de proximidade”


Qual o papel da imprensa regional na nossa sociedade? Será a imprensa regional mais influenciável e sujeita à manipulação de grupos económicos, financeiros e políticos ou dos próprios leitores? Que futuro se avizinha para a imprensa regional? Certamente que estas questões não passam, actualmente, indiferentes aos jornalistas, nomeadamente, aos que dedicam a sua “vida” ao meio regional.
O J-Jornalismo foi ouvir a opinião Rui Paulo Agostinho Lopes, gestor de empresas e administrador da Sojormedia, maior grupo nacional de comunicação social regional. E, saber se o futuro da imprensa poderá passar pelo jornalismo de maior proximidade, captando leitores e anunciantes.
De acordo com Rui Paulo Lopes, de 36 anos, a imprensa regional “é um espelho da localidade, do concelho, do distrito e da região de acordo com a dimensão de cada publicação. O seu papel é essencial no acompanhamento da vida pública, social, cultural, política, desportiva, associativa, sendo, em muitos casos, o único veículo de informação que fala dos assuntos que são mais próximos ao quotidiano das pessoas”.
O gestor considera que a imprensa regional, “como veículo de comunicação de proximidade, é um elemento dinamizador das regiões”, uma vez que “acompanha a actividade política”, dando “voz às pessoas”. Mas não só. Rui Paulo Lopes é também da opinião que ela “acompanha as empresas”, divulgando a cultura e incentivando a sociedade civil. “Em muitos casos a evolução da imprensa regional está intrinsecamente ligada à dinâmica da região, das pessoas e das suas organizações, empresas e instituições. A história das últimas décadas tem-se feito muito nas páginas desses jornais”, refere.
Em declarações ao J-Jornalismo, Rui Paulo salienta que, na sua opinião, “a imprensa regional é a voz das regiões e acima de tudo das pessoas esquecidas pela centralidade da capital”, porque “tudo o que surge na imprensa nacional e nas televisões tem como fonte a imprensa e as rádios locais, nomeadamente as situações de maior impacto editorial. O quotidiano do país real não é espelhado nas publicações ditas nacionais”. Segundo o gestor de empresas, a grande mais-valia da imprensa regional “é dar às pessoas o que é das pessoas: sua rua, o seu bairro, a sua cidade, o seu clube, a sua associação, os seus políticos”.

Isenção e rigor

Face aos níveis de influência e pressões a que a imprensa está sujeita, Rui Paulo foi peremptório: “considero que seja o mesmo que acontece na imprensa nacional, mas tudo dependerá do carácter mais ou menos empresarial dos projectos editoriais em causa. As pressões existirão sempre, mas a sustentabilidade dos projectos no mercado apenas se conseguirá com isenção e rigor. Os projectos com equipas de jornalistas bem formadas estarão acima dessas pressões até porque os leitores rapidamente perceberão se essas situações ocorrem ou não”.
Ainda assim, é da opinião que do ponto de vista do leitor não existem pressões. “Existem sim (ou não) hábitos de leituras mais ou menos diferentes. Maior destaque ao desporto (futebol e motorizado). Aposta no social. Escrita simples e directa”, refere, acrescentando que este tipo de “pressão é importante, pois muitas vezes os jornais debatem-se com a necessidade de criar hábitos de leitura nas pessoas, onde estes não existem”.

Imprensa regional: que futuro?

Quando questionado sobre o futuro da imprensa regional, Rui Paulo Lopes afirma que “a primeira mensagem é de que existe futuro e ele começa na capacidade dos jornais de adaptarem aos sinais do mercado (leitores e anunciantes). Segundo o gestor, tudo passa pela criação de “melhores jornais, com estruturas profissionais bem organizadas com o objectivo de chegar ao maior número possível de pessoas”.
Rui Paulo Lopes acredita “num movimento de concentração e possível fusão de publicações para que se criem jornais com um verdadeiro âmbito regional (diários ou semanário) com maior capacidade de desenvolver modelos de negócio profissionais”. No entanto, sublinha que “é necessário alcançar tiragens que garantam uma efectiva cobertura das regiões e consequentemente níveis de audiência superiores aos jornais nacionais”.

Testemunhos de Jornalistas


Rute Melo
28 anos
Jornalista há seis anos

O futuro passa pela imprensa regional. Na minha opinião esta será a opção dos cidadãos, uma vez que tem vindo a crescer em termos de qualidade e tem, como grande mais-valia, o facto de estar mais próximo das pessoas e das suas histórias. As histórias relatadas pelos órgãos regionais, porque são próximas do local onde o jornal tem a sua sede, despertam interesse e, por isso, atraem os leitores.


Vasco Garcia
25 anos
Jornalista há três anos

Penso que, no mundo cada vez mais globalizado em que vivemos, a imprensa regional tem hipóteses de se manter e até de se afirmar no panorama dos media. Com a Internet, as pessoas têm acesso a informação sobre o que se passa em todos os cantos do mundo. A aposta da imprensa regional deverá passar, em grande medida, pelo jornalismo de proximidade.


Lídia Pereira
42 anos
Jornalista há 15 anos


Há muito que acredito firmemente no futuro da imprensa escrita, embora alicerçada, como está a provar-se de forma avassaladora, em conteúdos que passam muito especialmente pelas novas tecnologias da informação, o que permite abordagens inovadoras e afirma de modo particular uma das mais importantes características dos jornais regionais: a da proximidade. Fundamental é não esquecer que a qualidade só é possível com redacções profissionais e dignificadas em termos de carreira e remuneração.


Gonçalo Silva
28 anos
Jornalista há dois anos e meio


A aproximação dos jornais regionais aos leitores, sempre deu, e continuará a dar, à imprensa regional uma arma de elevada importância. No futuro, essa relação terá de ser ainda mais vincada, optando os jornais por mostrarem histórias próprias, conteúdos inovadores, levando progressivamente a uma interacção cada vez maior entre a redacção e o seu “público”.


Dora Loureiro
43 anos
Jornalista há 19 anos


O futuro da imprensa regional passa necessariamente pelo jornalismo de proximidade. Este é um trunfo da imprensa regional, comprovado pelas inúmeras solicitações a este nível. Neste contexto, a eventual aprovação das regiões administrativas poderá proporcionar mais um espaço de afirmação da imprensa regional. Mais do que o espaço – regional ou nacional –, a qualidade, independência e rigor da informação são determinantes, no presente e no futuro.


Cláudia Trindade

Efeito J na vida portuguesa

Será que Portugal é a zona J da Europa?

Uns dizem que é por causa da morosidade da Justiça, alguns apontam o dedo ao Jornalismo que temos, muitos falam da falta de Juízo dos políticos e outros até dizem que a influência de Júpiter na conjugação dos astros é especialmente prejudicial a este jardim à beira-mar plantado.
Já basta. Já não há pachorra para os janotas que assumem cargos na vida pública, mas que, no fundo não passam de Zés-Ninguém. Nesta história, o povo faz o papel de João-Pestana, de olhos fechados, incapaz de ver aquilo que se passa mesmo à sua frente.
O efeito J na vida política portuguesa começa logo nas “jotas” partidárias e evolui depois para diversos fenómenos personalizados. Veja-se a forte presença do J no Governo, desde José Sócrates a Jaime Silva, passando por Ana Jorge, José Vieira da Silva ou José Pinto Ribeiro, para além de diversos secretários de Estado, adjuntos, chefes de gabinete e directores-gerais. Noutras instâncias surge José Manuel Durão Barroso ou Jorge Sampaio, José Miguel Júdice (mais à direita), ou Jerónimo de Sousa, na ala esquerda.
Reconheçamos que, no que diz respeito a nomes de homens e mulheres na política portuguesa, a letra J não é caso único. Há outras letras como P, O, D, E ou R, que também têm “dignos” representantes na vida pública portuguesa.
Este país tornou-se um Ai! Jesus nos acuda... e isto não é um problema de religião, é uma questão de confiança. Fazem-se juras de amor que não são cumpridas. Firmam-se juramentos de lealdade, rapidamente desrespeitados. Garantem-se decisões justas que não passam de intenções.
A vida dos portugueses oscila entre o sonho de riqueza do Jackpot no Euromilhões, o Joystick da consola de jogos ao fim de cada dia de trabalho, ou o Jet-leg da viagem transatlântica paga a crédito bancário.
Enquanto na Europa se bebe uísque, os portugueses contentam-se com jeropiga. No estrangeiro faz-se criação de cavalos puro-sangue mas nós albardamos jumentos. Os outros países organizam-se por regiões, Portugal aposta nas juntas de freguesia.
O J parece ser uma fatalidade para este país. Assim, arriscamo-nos a ser a tal “Jangada de Pedra” à deriva, descrita por José Saramago… (olha, cá está um distinto J na literatura, aliás, como os há em diversas outras áreas da sociedade: Jesualdo Ferreira ou José Mourinho no futebol; José Rodrigues dos Santos, José Eduardo Moniz, José Alberto Carvalho ou Judite de Sousa no jornalismo; João Cutileiro e Mestre José Malhoa nas belas-artes; João Lobo Antunes na neurocirurgia; José Afonso na música ou Jerónimo Martins nos negócios). Mas estes nomes são as excepções que confirmam a regra, dizem os mais pessimistas.
Perante o quadro traçado, será possível fazer jejum deste país?!

António Rosado

www.acronicadehenriquebarreto

– Gonçalo, deixa-me ver aí as notícias se faz favor, implorei ao meu filho mais velho, mal pus um pé fora da cama.
Farto de notícias deveria estar eu, porque no sábado tinha gasto quase três euros em cerca de 500 gramas de papel de jornal num saco de plástico. Além disso, comprei também o Público e desfolhei a Visão da minha mulher.
O problema estava em que, na verdade, o que me apetecia mesmo não era o papel, que costumo entregar na oficina do meu vizinho para ele utilizar nas pinturas. Eu queria era notícias frescas do Freeport, das falências, da crise, e de muitas outras coisas que certamente deveriam ter acontecido na noite em que eu repousava numa cama de casal. Preguiçoso como sou, apetecia-me ver o país e o mundo só com uns cliques!
– Papá, agora deixa-me acabar o jogo. Vai aí ao Magalhães!, responde-me o Gonçalo, sem desviar o olhar do ecrã onde jogava uma partida de snooker virtual.
– Oops, já nem me lembrava do Magalhães. Qual á a password que a tua irmã meteu nisso?, perguntei.
– Eu digo-te papá. É amo-temuitolopes. Só eu é que a sei porque, senão, eles fazem downloads e enchem-me o Magalhães de vírus, chilreou-me ao ouvido a Francisca, de 8 anos digitais.
– Ó Francisca, mas essa password é muito grande. Tens que arranjar uma mais pequena, sugeri-lhe.
– Tenho outra papá. É KIKA, mas amo muito o Lopes, confidenciou-me.

Como é fantástico e maneirinho este Magalhães! Mas... cada a coisa a seu tempo, pensei eu, recordando-me do gozo que me deu aquela lousa, emoldurada em pinho sem o bicho do nemátodo, que há coisa de uma semana tinha adquirido a um artesão, numa feira em Arganil. Senti-me como uma criança e ai de alguém que ousasse tocar na minha lousa, que também tratei de proteger com uma password, igualmente longa como a da Francisca: “proibidomexernaminhaescrivaninha”.
Como recordar é viver, lembrei-me dos erros que nós, miúdos aprendizes numa escola de província – onde tudo era demasiado provinciano –, escarrapachávamos naquelas negras ardósias. Sentença: vinte reguadas com uma régua de pinho, aparentemente, sem nemátodo. Que saudades tenho das mãos sobreaquecidas naquelas gélidas manhãs de Inverno... ao princípio era doloroso, mas cinco minutos depois o sistema até proporcionava algum conforto térmico.
– Estou? Quem fala?
– É pá, é o Xico!
– “Viva, Sr. Xico... então?”
– É pá, estou aqui nas Novas Oportunidades. Não queres vir almoçar?
– Como?
– É isso pá... agora o Sócrates é mais que meu pai! Dá-me quase 600 euros... e olha... estou a tirar o 11º ano.
– Está bem! Então, mas não tinhas uma empresa de venda de queijo da serra e de presuntos?
– Pois tinha pá, mas deitei-me abaixo nas finanças, e 600 euros são 600 euros...
– OK. Sim senhor! Mas, ó Chico, agora estou aqui na internet a pesquisar umas coisas para uma pós-graduação que ando a tirar em Coimbra… sinceramente, não me dá muito jeito.
– Pronto, pronto... deixa-te estar... agora também te dás com esse gajo, o Antero Neto?
– Mas qual Antero Neto, pá? Estou na Internet!
– Pi...pi...pi...pi.... caiu a chamada!

* Eu avisei o director do “J”. Preferia ter feito o Horóscopo... mas ninguém me ligou nenhuma! E tanta coisa que os astros me têm revelado. Poderia ter antecipado, por exemplo, que o Futebol Clube do Porto vai ser campeão; que a crise – pelo menos a minha – prolongar-se-á até quando Deus quiser, ou que o Vital Moreira vai ser deputado ao Parlamento Europeu…

Henrique Barreto
henriquebarreto@correiodabeiraserra.com

Estatuto Editorial do J-Jornalismo


A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, lançou no ano lectivo de 2008-2009, em parceria com o grupo de comunicação social Sojormedia, a pós-graduação “Imprensa Regional”. A criação deste curso foi efectuada em cumprimento do disposto no decreto-lei número 74/2006, de 24 de Março, e nos termos dos decretos-lei, números 155/89 e 42/2005 e 7287-C/2006, respectivamente de 11 de Maio e de 31 de Março.
O envolvimento dos alunos e professores com esta iniciativa de âmbito académico, traduziu-se num reforço puro na reflexão sobre um sector que atravessa uma fase periclitante, fruto de mudanças significativas no mundo da comunicação, da transformação da sociedade e também de uma crise económica avassaladora. Foi muito oportuna a ideia desta pós-graduação dedicada à imprensa regional porque são estes meios de publicação que guardam valiosas memórias de Portugal, que fazem o genuíno jornalismo de proximidade, retratando lugares e pessoas, as histórias e estórias das localidades tantas vezes esquecidas.
O curso foi aberto a licenciados, bacharéis em Jornalismo, Ciências da Comunicação ou cursos afins, bem como a profissionais do mundo do jornalismo com curriculum reconhecido. Teve ao longo do ano várias conferências e seminários que foram sendo promovidos em simultâneo com as disciplinas base “História da Imprensa Regional”, “Os meios de comunicação e o enquadramento legislativo”, “Metodologias de investigação em comunicação”, “Princípios de gestão aplicados à Imprensa Regional”, “Comunicação e marketing da Imprensa Regional”, “Audivisual e media interactivos regionais” e “Como criar um jornal regional”.
No dia 25 de Setembro de 2008, o total de candidatos admitidos para esta pós-graduação, totalizavam vinte e seis estudantes. O resultado é largamente positivo, pela oportunidade da aprendizagem responsável numa Universidade considerada em todo o mundo, pela ligação entre os candidatos à pós-graduação “Imprensa Regional”, professores e comunidade académica.
Ao longo do segundo semestre nasce o jornal J – JORNALISMO. Esta publicação traduz-se na apresentação de vários trabalhos jornalísticos que serviram para avaliação na cadeira “Como criar um jornal regional”, leccionada pelo Dr. Fernando Paulouro e serve de espelho para uma leve percepção do modo como se viveu um ano universitário francamente positivo para todos aqueles que tiveram o privilégio de frequentar este curso superior.
Este curso trouxe aprendizagem mas também mais instrumentos para dinamizar a profissão do jornalismo regional, apresentou dados importantes e muito influentes no seu benefício para o pleno exercício da função de redactor. Incutiu igualmente o espírito de dinâmica dos projectos jornalísticos, com abordagens ao mundo da gestão, organização, planeamento, actualidade e futuro dos media. Aos poucos, cada participante nesta pós-graduação “Imprensa Regional”, foi tendo a noção de que este curso não servia apenas para aprender mas também para dividir saberes, experiências, ideias e formas de actuar como jornalista.
Aqui fica este J – JORNLISMO como testemunha deste acontecimento académico, como um jornal em forma de experiência mas também como prova do sucesso desta iniciativa da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e da Sojormedia. O número 0 que aqui apresentamos, edição de Maio de 2009, é o garante na posterioridade de um curso que acolheu alunos que na sua maioria são profissionais do jornalismo, obreiros da comunicação local, deveras importante para a verdadeira caracterização de Portugal. Este passo académico fez história. Todos os intervenientes nesta pós-graduação “Imprensa Regional”, como pioneiros na sua frequência mas também com o gosto especial de nele terem adquirido conhecimento, orgulham-se de entrarem na história da Universidade de Coimbra.
Como director do J – JORNALISMO, agradeço a confiança que me depositaram, sem excepção de quem quer que seja, pela oportunidade de ser parte integrante de mais um momento decisivo na minha vida. Fomos e seremos uma equipa que continuará na senda da construção da identidade das nossas comunidades locais mas agora com dois novos estatutos: o vínculo que nos une sobre a forma de amizade mas também o facto de sermos portadores de mais bases para desenvolvermos com superior profissionalismo a profissão que abraçamos.
Espero que esta edição do J – JORNALISMO, não seja apenas uma publicação de coleccionador. Com a continuidade desta pós-graduação ou até a própria Universidade de Coimbra, através da respeitada Faculdade de Letras, quem sabe não lhe dará “alma”?


Joaquim Santos

Guiné: da vivência no campo de batalha à esperança do 25 de Abril

A guerra do Ultramar foi uma marca indelével na vida de Joaquim Pereira dos Santos
Joaquim Pereira dos Santos foi apenas um dos muitos Homens que saíram do país, cumprindo as obrigações de um regime ditatorial, de um Estado que controlava alguns países africanos, enquanto colónias.
Guiné, Moçambique e Angola foram palco de batalhas ferozes, de confrontos difíceis, de corpos dizimados pelas catanas ou pelos albuzes, de sangue derramado, sem se saber porquê e para quê tanto sofrimento.
Este jovem do Telheiro, mais tarde radicado em Pousos, é protagonista de uma história de vida vastíssima, pautada pela guerra no Ultramar, onde foi testemunha de um conflito que não desencadeou e com o qual muito menos se identificou. Mas, teve de partir para cumprir ordens superiores, para honrar a nação…
Aquando da sua partida, embarcaram também outros colegas. Muitos voltaram dentro de quatro tábuas, outros nem à pátria tiveram a sorte de retornar.
Joaquim Pereira dos Santos teve um destino diverso: conseguiu regressar, embora diferente. Um trauma de guerra ainda hoje lhe muda os dias e as horas. Sente que o Estado lhe voltou as costas, como a tantos outros que tiveram a sorte de regressar num barco ou avião das ex-colónias portuguesas.

O retrato de uma história de vida na primeira pessoa…
Aos 57 anos de idade, são inúmeras as histórias guardadas no livro da sua memória. Recordações que transporta. Umas pintadas de cor-de-rosa outras de negro.
A infância foi passada com simplicidade. No lugar do Telheiro, na freguesia da Barreira, cresceu lado a lado com os jogos tradicionais da época. Habituou-se, desde catraio, a valorizar a existência de Deus. Assistiu ao crescimento de uma casa com ….. irmãos, onde os pais, apesar de muitas dificuldades, conseguiram, com a mesma panela de sopa, criar, com educação os seus filhos.
Joaquim Pereira dos Santos entrou na escola primária do Telheiro com 7 anos e saiu aos 14 anos, com a quarta classe completa. A partir daí iniciou a sua vida profissional na Pensão Avenida, em Leiria, local onde permaneceu um ano. Posteriormente, ingressou na J. Silva & Irmão, uma fábrica de farinhas, na qual ficou meio ano. A seguir, aceitou o convite para entrar na torrefacção de café “A. Santos”, na estrada da Marinha Grande, cujo proprietário era o mesmo da antiga Pastelaria Soraya. Permaneceu aí durante dois anos.
Aos 20 anos chegou a convocatória para o cumprimento do serviço militar, onde esteve dois anos e meio destacado, em primeiro lugar, no Porto e depois na guerra ultramarina: Guiné-bissau.
Viveu momentos de dificuldade extrema, de desespero absoluto, pensando que o mais certo seria não conseguir retornar a Portugal para conhecer o filho que, entretanto, tinha nascido.
Quando Joaquim Pereira dos Santos regressou do Ultramar, aguardava-o um convite para ingressar na Torrefacção Maia, na estrada da Estação, Bairro das Almoínhas. Durante três anos permaneceu como responsável pela produção de café, assistindo e participando activamente no crescimento da empresa. Posteriormente, a Portucel foi a empresa que veio a privilegiar, numa carreira profissional que durou 26 anos. Em Janeiro de 2009 reformou-se para, finalmente, descansar do longo tempo que se entregou ao trabalho com afinco.

Recordar tempos ancestrais
Carrega a saudade da alegria dos tempos de pequeno, que apelida de “saudáveis”. Não existia o índice de criminalidade como agora, as pessoas agiam mais no colectivo, com mais pureza e verdade nos seus actos. Hoje, o individualismo e a indiferença nas relações humanas, “para além de magoarem, apenas constroem uma sociedade com pessoas de costas voltadas umas para as outras”.
Antigamente, as pessoas uniam-se, festejavam os acontecimentos, como a passagem do ano. Nas aldeias faziam-se as fogueiras e saltava-se sobre elas. As rodas humanas e as várias brincadeiras populares eram os passatempos da época. Não havia droga, álcool, discotecas, tantas mortes por irresponsabilidades de condução. Para Joaquim Pereira dos Santos “a evolução do mundo foi tal que nos coloca na fronteira exacta da reflexão, sobre saber se devemos recuar ou impedir de avançar”.
Foi aos 19 anos que “alguém o agarrou nos Pousos, uma terra que, um ano e meio depois de casar, o fez ficar para sempre”. Conheceu a Maria Judite, o grande amor da sua vida, a mulher que lhe conferiu a alegria dos seus dois filhos. Mas a distância veio impor-se, com um casamento recente a ser invadido pela necessidade de cumprir a vida militar no palco da guerra.

Guiné, a passagem da dor
O entrevistado ao reportar-se à sua ida para a guerra do Ultramar, diz-nos que “seriam precisas muitas horas para relatar o que por lá viveu”. Joaquim Pereira dos Santos confidencia-nos que partiu num avião da TAP para Bissau, com uma bagagem pesadíssima de medo. Quando chegou, gozou de um ano de algum descanso, pois, foi um período durante o qual não houve ataques. Mas o terror chegou, entretanto.
No Natal de 1974, às 00h00, a sua companhia sofreu um ataque devastador pelos “Turras”. Passado pouco tempo foi destacado para Gadamael, uma zona fronteira, a 18 quilómetros de Konacri. Aqui, estavam a ser atacados a cada cinco minutos, assistindo à morte de muitos dos seus amigos, temendo que a qualquer momento, também sobre caísse alguma bala. Nas suas mãos transportou, com dor, alguns colegas inanimados, mortos ou quase mortos, alguns com órgãos à vista, outros conscientes e a gritar devido às dores que sentiam.
Joaquim Pereira dos Santos perdeu a esperança de voltar para Portugal, quase assumindo que, mais tarde ou mais cedo, também ele seria uma estatística, “mais um que voltava deitado”.
Procurando evitar a exposição à batalha, sentindo, no entanto, com a obrigatoriedade de combater, conseguiu o milagre de escapar com vida. Recorda os momentos da recepção da Virgem Maria na Guiné, onde o seu puro agradecimento e dos outros colegas sobreviventes, foi um sentimento que perdurou até à actualidade. Contudo, a mágoa também o acompanhou, lembrando os “bons momentos com alguns dos colegas que tombaram na guerra”.
O cenário mais dramático, na Guiné, foram os momentos em que “carregava os colegas mortos para as berliés, transportando-os para as morgues, ficando, a seguir, a fazer sentinela aos cadáveres, como honra de pátria e respeito pela sua missão”.

A guerra dispensável
O entendimento de Joaquim Pereira dos Santos e da maioria dos colegas era que “tudo aquilo era um trabalho em vão, porque alguém estava interessado em manter a guerra para se ganhar muito dinheiro nos gabinetes, enquanto os militares estavam revoltados e contra a sua vontade, arriscando em cada minuto a própria vida”.
Porém, a boa notícia chegou no dia 25 de Abril de 1974. Joaquim Pereira dos Santos estava a fazer segurança numa ponte de Bafatá e aparecem alguns colegas à noite, “dando a notícia que se tinha dado o 25 de Abril e que, brevemente, regressariam para casa”. Nessa mesma noite ninguém mais dormiu. Apesar da boa nova ter trazido a esperança, mesmo assim, ainda tiveram, durante algum tempo, especialmente no período do desmantelamento, de “levarem com a ira e revolta da população negra que aproveitava qualquer oportunidade para dizimar”.
Os militares portugueses não eram aceites pelos negros, mas a distribuição de comida, roupas e outros auxílios na saúde e segurança, começaram a dar frutos. Foi-se gerando alguma tranquilidade na relação entre portugueses e guineenses.
Os canhões sem recuo e as armas ligeiras desapareceram por completo das ruas e florestas da Guiné. As aldeias e cidades, os povoamentos, apesar de revoltados contra os militares portugueses, foram-se apercebendo, aos poucos, dos novos tempos. A excepção foram alguns militares “Turras” que se refugiaram no mato.
Joaquim Pereira dos Santos, depois de regressar a Portugal, para reorganizar a sua vida familiar, desde a primeira hora, que se sentiu desprotegido e ignorado pelo Estado Português. Na sua opinião, “parece que mais ninguém quis saber de nós, do que fizemos, como regressamos, como ficámos, ficando absolutamente abandonados”. Só um Ministro da Defesa fez alguma coisa pelos militares do Ultramar, situação que lamenta, “porque muitos já faleceram e o Estado nada fez para reparar muitas mazelas e outros que ainda vivem, continuam com o abandono, o esquecimento completo”. Para este ex-militar de 57 anos de idade, “apenas Paulo Portas fez algo pelos militares do Ultramar”.
Hoje, permanecem muitos homens em cadeiras de roda, com doenças que lhes afectam a vida, com traumas que perturbam os dias… Não existem apoios financeiros, muito menos psicológicos, para batalhões de homens que “foram carne para canhão”.

A fé como sentido e a família como luz
Como homem que acredita em Deus, assume que a sua dedicação à religiosidade o conduz a uma vida com mais sentido e força para enfrentar os desafios/problemas da sua existência. A missa dos domingos dá-lhe a consistência para o resto da semana.
Deseja partilhar o resto do tempo que lhe está destinado com a família, privilegiando os melhores momentos com quem verdadeiramente merece. Pelo caminho, ficam as recordações da querida neta que “foi um farol, a orientação pura, a relação mais imaculada desde que se conheceu”. Joaquim Pereira dos Santos espera um dia reencontrar a Eduarda de Sempre, “a menina que tanto modificou, moldou, todo o seu ser”. Para isso acontecer entende que nos seus actos “têm de se traduzir ao merecimento para lá chegar”.
Quanto aos períodos conturbados que passamos pelo mundo fora, na sua maneira de ver, os Governantes do mundo, “em vez de gastarem o dinheiro nas guerras, que o gastem na Paz”. Na sua óptica, existem tantas pessoas pacíficas, que apenas precisam do nosso sorriso, de um prato de comida, de uma roupa para vestir e de uma ajuda para se inserirem na sociedade.
Joaquim Pereira dos Santos tem um sonho que confidencia: “a utopia de que todo o ser humano consiga ser feliz nesta curta passagem”.



Joaquim Santos

“O melhor ofício do mundo”

Emília sonhava ser bailarina. António Figueiredo chegou a pensar em ser padre. Cláudia andou indecisa entre o mundo da advocacia e dos polícias. Se alguns desejavam, em pequenos, seguir outros destinos, a vida levou-os a exercer aquele que é, segundo Gabriel Garcia Marquez, “o melhor ofício do mundo”.
Emília Amaral, de 41 anos, António Figueiredo, 43, e Cláudia Trindade, de 26, são jornalistas. Conheceram-se em Outubro de 2008, nos bancos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde, desde então, frequentam a primeira pós-graduação em Imprensa Regional realizada no país.
Com eles, mais cerca de 15 pessoas reúnem-se todas as semanas para discutir o presente e reflectir sobre o futuro da profissão. Todavia, há escassos meses, as expectativas em relação ao curso eram demasiado altas. “Não sendo o que estava à espera, aprendemos sempre algo de novo, quanto mais não seja com a experiência de outros colegas e dos próprios professores”, refere Emília Amaral, directora do Jornal do Centro, em Viseu.
Mesmo assim, o tempo renunciado ao lazer habitual de um fim-de-semana ou à companhia dos amigos e familiares tem valido a pena: “É um complemento de informação técnica e um “fórum” para debate de novas estratégias de abordagem à profissão”, refere por seu turno, António Rosado, jornalista do Diário As Beiras. Afinal, se alguns nunca sonharam tornar-se profissionais da comunicação, hoje, todos os que frequentam a pós-graduação têm, pelo menos, uma coisa em comum: “a preocupação com o futuro e a vontade de saber mais… sempre mais”.









PERSPECTIVAS DE FUTURO

Tânia Lino, hoje com 27 anos e jornalista no jornal “Audiência”, era ainda menina quando fez a primeira reportagem. “Tenho muito presente na mente uma imagem de uma tarde em que peguei num microfone dos meus irmãos e fui com um caderno e uma caneta para junto das árvores de fruto, que o meu pai com canto carinho cuidava. Contei as folhas que a árvore tinha e fiz uma reportagem com tão interessante assunto”, conta.
O bichinho da rádio também se revelou bem cedo na vida de Mário Freire “Em criança cheguei a brincar às rádios, com brincadeiras de entrevistas e simulação de relatos de futebol, mas estava longe de imaginar que esta pudesse vir a ser a minha opção profissional”.
Também António Rosado chegou a simular, com apenas oito anos, programas de rádio “com música na hi-fi lá de casa com micro”.
O tempo foi passando e cada um dos alunos foi trilhando diferentes percursos de vida. Talvez por isso, uma das grandes mais-valias do curso seja, precisamente, a troca de experiência entre colegas. Afinal, contam-se histórias, revelam-se sonhos, partilham-se bons momentos. E os maus também. Como aquele dia – em Abril de 2009 – quando uma colega do curso conheceu a triste realidade do desemprego. Adriana Afonso, que cedo conheceu o mundo do jornalismo criminal, no Rio de Janeiro (de onde é natural), atravessaria o Atlântico para vir trabalhar, durante sete anos, no Jornal O Eco, em Pombal. Naquela tarde, fechava-se uma porta. Outras abrir-se-ão, acreditam os colegas. No entanto, para Adriana, o que mais a entristece “é o facto de não ter perspectivas de futuro”.
Apesar de tudo, ainda há sonhos. Muitos sonhos. Benedita Oliveira, jornalista no semanário Campeão das Províncias, gostava de trabalhar num jornal nacional. Oriana Pataco, de 29 anos e chefe de redacção do Jornal da Bairrada, sonha voltar um dia aos ecrãs de televisão, onde iniciou a carreira.
Emília Amaral deseja montar uma rádio e um jornal numa comunidade africana. “Eles têm “sede” de informação”, justifica. Já o sonho de António Rosado é “fazer jornalismo de “viagens com pessoas dentro”. Gostava de trabalhar num mundo (qualquer que fosse) de gente inteligente”, refere.
A precariedade na profissão é um dos pontos que mais preocupa todos os profissionais que frequentam este curso. Tânia Lino, por exemplo, nunca desistiu do sonho de ser jornalista. Mas, para isso, tem que dividir as horas do seu dia por dois empregos. Por isso – adianta ao “J” –, o seu desejo é vir a trabalhar num órgão de comunicação social que a permita não precisar de ter outro emprego. “Actualmente não consigo viver apenas com o jornalismo, nem quero, pela insegurança que todos os órgãos transmitem. Prefiro não depender financeiramente desta actividade e continuar a fazer o meu trabalho com muita paixão”, revela.

SONHOS E DESILUSÕES

Ser jornalista é, por vezes, uma profissão ingrata. Que o diga Oriana Pataco: “desilude-me a precariedade na nossa profissão. E também o facto do público só saber apontar os erros, as falhas, mas ser ingrato e pouco sensível quando apresentamos bons trabalhos.” Uma opinião partilhada por Diana Claro, jornalista no Diário As Beiras: “Fico desiludida com o facto de não nos darem o devido valor, que não reconheçam o esforço que a profissão exige”. Já, para Mário Freire, o pior no mundo do jornalismo “é a postura de arrogância, inveja e individualismo de alguns colegas”.
A chama do jornalismo, como qualquer outra chama que se preze, necessita de constante alimentação para se manter viva. Em cada um dos alunos desta pós-graduação perdura ainda – apesar de algumas desilusões – a visão romântica do jornalismo. “Apaixona-me a descoberta e a responsabilidade social. Quando percebemos que, por via de um trabalho nosso, conseguimos melhorar a vida de alguém ou fazer alguém feliz, essa é a maior recompensa que se pode pedir”, afirma Oriana Pataco.
Já Mário Freire refere que um dos grandes privilégios da sua profissão é o de “servir causas públicas, contribuindo para o desenvolvimento e uma melhor qualidade de vida, muitas vezes denunciando as injustiças sociais”.



Talvez seja por isso que, apesar da precariedade e de alguma incompreensão, cada um daqueles alunos (ainda) mantenha ainda, “a chama viva”. “Bem lá no fundo, já gosto do sítio onde trabalho...”, diz Diana Claro.




“Um dia gostava de ser reconhecida como uma excelente profissional. Sou feliz onde estou”, diz, por sua vez, Claúdia Trindade, também jornalista no Diário As Beiras.
Ser jornalista é, também, saber resistir, apesar das barreiras, das pressões, da vida quotidiana ameaçada de carências e desgraçadas. E a prova está ali, naqueles bancos da Faculdade de Letras, onde apesar de tudo, a opinião é unânime: “ser jornalista é (mesmo) o melhor ofício do mundo”.








Patrícia Cruz Almeida

IMPRENSA REGIONAL

Pós-graduação abre novas perspectivas tecnológicas










Fernando Guedes da Silva e Paulo Miguel Proença, membros da direcção executiva da distribuidora Vasp

A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) é pioneira em cursos de pós-graduação em Imprensa Regional existentes em instituições portuguesas de ensino superior. Ao longo do ano lectivo 2008/09, duas dezenas e meia de profissionais da comunicação social regressaram aos bancos da escola para abordar novos conceitos de imprensa.


O presidente do Conselho Executivo da FLUC, Carlos André, considera que o curso em Imprensa Regional é “triplamente inovador” por ser “a primeira vez que se faz uma pós-graduação em imprensa regional em Portugal”, a que se junta o facto de obedecer a “uma construção do plano curricular que não tem a matriz tradicional”, possibilitando, assim, a abordagem de “uma pluralidade de temas”. Na sessão de lançamento da pós-graduação, em Novembro de 2008, o docente sublinhou o facto de ser “a primeira vez que fazemos um curso em parceria com uma empresa privada, neste caso de comunicação social”. Esta circunstância foi também sublinhada por Francisco Rebelo Santos, administrador da Sojormedia, acrescentando que “a qualificação das pessoas é a primeira resposta a dar para vencer as transformações que se verificam na sociedade actual”.
Também o director do jornal diário “Público”, José Manuel Fernandes, orador convidado para a conferência de abertura do curso de pós-graduação leccionado na FLUC, abordou as estratégias seguidas pelos jornais para fazer frente à concorrência da Internet, defendendo que “a solução é utilizar os novos meios a nosso favor”, referindo-se à necessidade dos jornais tradicionais de formato papel desenvolverem plataformas on-line cada vez mais interactivas.
Leitores têm uma palavra a dizer
Nessa perspectiva confessou que os indicadores revelados pelo tipo de leitores que consultam o portal do “Público”, nomeadamente o género de notícias que procuram e os temas mais consultados, já começam a ter influência junto da direcção do periódico na escolha das manchetes do jornal. No quadro da imprensa regional, o responsável considerou que “é muito importante capturar o interesse dos leitores a nível local”, ressalvando que “tudo o que é feito nos jornais tem que ser feito com qualidade, sem ceder a facilitismos”. Perante uma plateia de cerca de meia centena de ouvintes, metade dos quais eram alunos de pós-graduação, José Manuel Fernandes concluiu que, mesmo atendendo ao domínio da Internet, “não vale a pena decretar a sentença de morte dos jornais porque isso já aconteceu muitas vezes, sem que se tivesse concretizado”. A pós-graduação em Imprensa Regional decorre até 2 de Maio de 2009, integrando conteúdos como o “Enquadramento Legislativo” dos meios de comunicação, “Princípios de Gestão Aplicados à Imprensa Regional” e “Metodologias de Investigação em Comunicação”. Ao longo do curso decorreram diversos seminários, destacando-se a presença dos jornalistas espanhóis, Beito Rubio, Manuel Campo Vidal e Francisco Moreno, assim como, Paulo Miguel Proença, director –geral da distribuidora de imprensa Vasp.
António Rosado

Novo paradigma da informação exige jornalistas multimédia

Francisco Moreno é um dos mais conceituados observadores do fenómeno comunicacional espanhol.
O contínuo fluxo de notícias e as múltiplas plataformas de comunicação são um desafio permanente aos jornalistas. A nova realidade exige que os profissionais da comunicação dominem as diversas linguagens de escrita e audiovisual.

Um dos mais destacados profissionais da comunicação social espanhola e observador especializado do fenómeno audiovisual, Francisco Moreno, disse em Coimbra que “quanto mais controlo o jornalista tiver do todo o processo de concepção e transmissão da informação, maior rigor terão as notícias”. O especialista, que já assumiu cargos de direcção da TVE Canárias e da Antena 3 Las Palmas, esteve presente num dos seminários do curso de pós-graduação em Imprensa Regional, que está a decorrer na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Respondendo ao desafio “O jornalista do futuro: produtor ou mediador de conteúdos”, Francisco Moreno garantiu que “depois da actual crise económica, a paisagem do audiovisual será completamente diferente”, reforçando a convicção de que “os meios de comunicação social não vendem papel, nem ondas, nem banda larga; mas sim conteúdos”.
Nesta perspectiva, exige-se aos jornalistas o completo domínio de todas as formas de recolha de informação, tirando o máximo partido da “multiplicidade do material digital existente, para transmitir o impacto emocional dos factos registados”.
Constatando que os grandes grupos de comunicação social espanhóis estão a confrontar-se com prejuízos de milhões, provocando um elevado número de despedimentos, Francisco Moreno mostrou-se convicto de que a comunicação social saberá encontrar o seu caminho como actividade empresarial sustentável. Nesse quadro, o orador afirmou que “no futuro, deverá ser o consumidor de informação a pagar o produto que quer obter”, referindo o iTunes como exemplo de aquisição de um conteúdo específico, como é o caso da música.
Na esfera da imprensa regional, a confluência de meios será uma das soluções para rentabilizar os conteúdos, sendo muito importante “a credibilidade que o título do órgão de comunicação tem junto dos consumidores” para se afirmar como fornecedor de conteúdos, concluiu.

António Rosado

Rádios Locais e Jornais Regionais

Redacções com poucos licenciados

Embora existam centenas de diplomados em Comunicação Social, formados na Escola Superior de Educação de Viseu, poucos encontraram emprego nas rádios e jornais regionais. Uma realidade que pode vir a ser alterada.
Quinze anos após a criação do Curso de Comunicação Social na Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV) do Instituto Politécnico são poucos os licenciados que encontraram trabalho nas rádios locais e jornais regionais do distrito.
Dos que desempenham funções na área da comunicação social a maior percentagem está nas redacções dos jornais.
Nas rádios locais, o número de empresas com licenciados em Jornalismo ou Comunicação Social, ronda os 31 por cento, enquanto que na imprensa é o dobro, 64 por cento.
A percentagem de licenciados nas redacções desce para metade se for tido em conta o total de colaboradores. Nas rádios baixa para os 12,8 por cento e nos jornais para 48 por cento.
A realidade mostra que as rádios locais têm cada vez com menos colaboradores, já que os meios informáticos podem garantir a emissão autonomamente. É possível uma única pessoa assegurar a programação durante 24 horas, parecendo uma emissão em directo. A “playlist”, sequência de músicas transmitidas ao longo dia, é gerada automaticamente pelo computador. As intervenções do locutor também podem ser gravadas, sendo transmitas à hora pretendida. O mesmo acontece com a publicidade e os sinais horários.
Este é um “truque” também utilizado por algumas rádios nacionais, principalmente as que têm uma programação essencialmente musical.
Para o director da Rádio Clube de Lamego, professor primário aposentado, os licenciados não são para as rádios locais. “Não temos dinheiro para lhes pagar”, explica.
Todos os responsáveis das rádios que foram contactados queixam-se que os tempos são de grande contenção. O mercado publicitário “está cada vez pior” e essa é a principal, se não a única, fonte de receita das rádios.
Porém, as estações que apostam na informação local e regional não podem abdicar de ter colaboradores permanentes afectos à redacção.
O computador ainda não faz as notícias, nem vai à rua fazer reportagem, referem alguns dos jornalistas que trabalham nas rádios locais.



Rádios com poucos canudos


Além das questões financeiras, que impedem a contratação de novos colaboradores, o número reduzido de licenciados nas rádios pode também ser explicado com o facto de muitas trabalharem ainda com os “entusiastas” das rádios piratas, responsáveis, na década de 80, pelo movimento que levou à legalização das rádios locais.
Na altura os jovens quando entravam para a rádio ganhavam o “bichinho”, formavam-se como autodidactas e por lá permaneceram, valendo-se da experiência e da prática.
Hoje quem agora bate à porta das rádios são os jovens que acabaram o curso de Comunicação Social ou Jornalismo e querem fazer um estágio curricular ou profissional. Foi o caso de Ricardo Ferreira, a trabalhar na Rádio Vouzela. Quando terminou o curso na ESEV, fez um estágio curricular, de três meses, na Rádio NOAR em Viseu. “ Foi aí que aprendi a ser jornalista”, realça.
O estágio curricular abriu-lhe depois a porta para um estágio profissional do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), na Rádio Vouzela, onde hoje é funcionário do quadro.
Trabalha com dois colegas, mais antigos na casa, que não têm curso superior.
Não ganha mais por ter um “canudo”.
“O curso é bom para entrar na profissão, através dos estágios profissionais., mas depois somos como os outros”, refere.
Tendo em conta os cerca de 40 colegas de curso, Ricardo Ferreira pode considerar-se quase uma excepção. A maioria não está a trabalhar na área para a qual se formou.
Cerca de 5 por cento ainda estão desempregados. Os que estão a trabalhar a maioria só encontrou emprego no comércio. Dois desempenham funções em gabinetes de assessoria de imprensa e outros dois são jornalistas.

As empresas têm receio dos licenciados

Percurso inverso fez Pedro Pontes. Já estava na área, trabalhava numa rádio local quando há três anos se matriculou no Curso de Comunicação Social. Hoje desenvolve, por conta própria, actividade na área da assessoria de imprensa e imagem junto de empresas e municípios. Dos colegas que acabaram o curso em Junho (cerca de 40), a quase totalidade está desempregada ou emigrou. Dois encontram-se a fazer estágio.
Pedro Pontes diz que a licenciatura “não promove” quem já está no ramo e considera que até poder contribuir para que as empresas afastem estes profissionais aos quais não querem pagar mais pelo facto de serem licenciados.
Lamenta o sistema e o “círculo vicioso”, onde as empresas promovem sucessivos estágios profissionais, mas não criam emprego.
Uma situação que leva muitos recém-licenciados a “ quase pagarem para trabalharem de borla, para ganharem currículo”, refere.
Considera que os alunos de comunicação social ou jornalismo são enganados ao tirarem um curso para uma profissão à qual se pode aceder sem qualquer tipo de formação académica.
“ Gostava de ser médico, ou professor, mas não posso porque não tenho formação nessa área”, exemplifica com ironia.


Jornais com mais canudos e carteiras profissionais

Nas redacções dos jornais regionais para além de se encontrar uma maior percentagem de licenciados em jornalismo e comunicação social, há também uma outra diferença em relação às rádios. A maior dos colaboradores que faz informação nos jornais tem Carteira Profissional de Jornalista.
Uma situação para a qual deve ter contribuído, o Decreto-Lei n.º 56/2001, que regulamenta a atribuição de porte pago às publicações e que obriga as empresas a terem funcionários no quadro e jornalistas.
Nas rádios a realidade é muito diferente encontrando-se ainda muitos colaboradores que fazem notícias sem terem Carteira Profissional de Jornalista, contrariando as normas legais. O artigo 40 da Leia da Rádio diz que os serviços noticiosos, bem como as funções de redacção, são obrigatoriamente assegurados pelos jornalistas ou equiparados.A ausência de fiscalização no sector é umas das razões apontadas, por quem trabalha na rádio, para que a lei não seja cumprida.
Em muitas estações existem profissionais que para além de fazerem informação também vendem e gravam publicidade, atropelando as regras deontológicas a que a profissão está obrigada.

Estudo sobre empregabilidade


CANANUDO NÃO AUMENTA OS SALÁRIOS


Luís Nuno Sousa, Professor na Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV) fez um estudo, para um tese de mestrado, sobre “Processo(s) de transição para o trabalho : o caso dos diplomados em Comunicação Social “.
A análise teve por base os alunos que frequentaram e terminaram os cursos entre os anos de 1994 e 2000.
Em 84 casos identificados foi possível observar 70, sendo metade estudantes a tempo inteiro e a outra metade trabalhadores-estudantes.
Um dos objectivos do estudo era analisar de que forma decorreu a integração profissional e respectivos percursos profissionais.
Entre os que procuraram o primeiro emprego após terminarem o curso, quase metade, (46,7 por cento) diz estar a exercer uma actividade de acordo com a formação superior recebida. Trata-se de um resultado que o Professor da ESEV, autor do estudo, considerou “satisfatória “, embora os empregos tenham uma remuneração “baixa”, referiu, sem especificar.
Quanto ao trabalhadores estudantes, só 22,9 por cento desempenhavam funções em áreas ligadas ao curso, sendo que 51,4 por cento eram funcionários em serviços de instituições públicas e privados.
Após a conclusão do curso só um dos inquiridos disse ter melhorado o salário, mantendo o mesmo emprego.
Vinte continuaram no mesmo local de trabalho e com o mesmo ordenado. Oito permaneceram no mesmo emprego , mudando de categoria profissional, não sendo especificando se tiveram ou não melhoria salarial. Quatro mudaram de profissão.
O estudo diz confirmar o “imobilismo” e que o acesso ao diploma do curso superior “não influencia” a situação profissional já existente.


António Figueiredo


E depois do adeus… ao emprego!

Uma jornalista conta, na primeira pessoa, quais as sensações quando o desemprego bate à porta. E deixa conselhos úteis.

“Você está desempregada!”. Que atire a primeira pedra quem nunca teve medo do desemprego bater à porta. Eu tinha e, mesmo com a crise instalada, não imaginava que pudesse acontecer comigo. Primeiro, passamos por uma espécie de torpor, quando ainda não sabemos bem o que acabou e o que vai ser o futuro. Depois, o sentido mais prático bate à porta. É hora de preparar papéis, ir conhecer o centro de emprego da sua área de residência e traçar um plano de ataque em busca de um trabalho. A seguir, passo-a-passo, como é a primeira semana na vida de uma desempregada.

Dia Um
Em menos de meia hora, uma vida profissional de vários anos foi jogada na rua. O tão temido desemprego atingiu-me. E agora? Continuar a trabalhar, pelo menos hoje, está fora de questão. Sinto-me como um daqueles carrinhos das feiras de diversões, sem saber se vou para a frente ou para trás, e a levar pancada de vários lados. Pelo menos é sexta-feira e ainda tenho o fim-de-semana para digerir o assunto. Sinto que vou ter uma azia daquelas…
Conselho: Procure não adoptar um comportamento negativo ou ansioso. A tendência será para que este tipo de sentimentos floresçam e para que a pessoa se sinta de certa forma revoltada e pessimista em relação ao futuro. Contrarie esses sentimentos pois se não acreditar no seu potencial e na sua capacidade de "dar a volta", dificilmente conseguirá sair do ciclo vicioso. Também não gaste os seus dias a "deambular" pela casa e a remoer o passado. O que aconteceu é passado e o que importa agora é preparar-se para uma nova fase na sua vida. Procure transformar esse período de mudança numa fase de transição. Na falta de outras actividades arranje hobbies, faça exercício, enfim, mantenha-se ocupado de corpo e espírito.

Dias Dois, Três e Quatro
O fim-de-semana passou e continuo com os pés fora do chão. Ir ao trabalho, retirar do computador, da mesa e do armário vários papéis. A maior parte não tem importância nenhuma. Como é possível acumular tanto material inútil? Não há resposta, mas agora também não interessa.
Telefonemas… muitos telefonemas de pessoas a perguntar o que se passa. As notícias más correm muito depressa. Algumas pessoas solidárias, a mandar nomes ao patrão louco e a procurar culpados; outras a questionarem o que farei no futuro. Para esses últimos telefonemas não há muita paciência, até porque, já estamos num estado de pânico suficiente para que alguém venha fazer mais previsões de um futuro negro, ou a dizer que o mercado vai estar mal pelos próximos mil anos.
Contactos… Muitos contactos com os amigos e colegas conhecidos. Avisar a quem não sabia, pedir que lembrem de si quando souberem de alguma vaga. Começar a pesquisar na Internet o que se faz quando o desemprego bate à porta. Nossa… O gabinete de estatística europeu estima que o desemprego em Portugal tenha aumentado para 8,3 por cento...
Conselho: Actualize e contacte a sua rede de contactos profissionais, principalmente aqueles que estão directamente associados com o seu sector de actividade. Estes contactos são fontes de informação extremamente importantes já que será através dos mesmos que poderá obter informações sobre o estado do mercado, nomeadamente sobre vagas e oportunidades, como também sobre tendências da área de actividade onde exerce a sua profissão.

Dias Cinco e Seis
Negociar a saída do emprego, 365 vezes sete, mais X, Y, Z e… só????? Como é que eu vou sobreviver???! Ops, olha ali um erro… Ainda tenho dias de férias do ano passado para gozar… Vamos tentar subir mais um bocadinho… vá lá… a rapariga merece… Vale a pena, durante o processo de despedimento, conhecer os seus direitos.
Conselho: O direito a férias é um direito constitucionalmente consagrado. Conforme o seu tempo de trabalho dado à empresa, o tipo de contrato e dependendo de já ter ou não gozado férias no ano em que é despedido, você vai ter direito a montantes proporcionais. Já o valor do subsídio de Natal é proporcional ao tempo de serviço prestado no ano civil. A indemnização também depende da sua antiguidade na empresa e varia conforme o contrato assinado. Não esqueça ainda de pedir o papel para poder receber o subsídio de desemprego.

Dia Sete
Papéis assinados, cheque depositado, é a vez de conhecer, ao vivo, o Centro de Emprego e Formação Profissional da minha área de residência. Não posso esquecer de levar documentos, incluindo o que foi emitido pela empresa. Descubro que esta é uma etapa fundamental e que, a partir do momento da minha inscrição no Centro de Emprego, fica estabelecida uma relação de direitos e deveres entre nós.
O Centro de Emprego está absolutamente cheio. Há muitos desempregados. Depois de retirar uma senha tenho que aguardar, pacientemente, que chamem o meu número. Mais de uma hora depois, sou chamada ao balcão e, após uma pequena entrevista, tenho que aguardar mais um pouco. Sou depois chamada para uma sala onde decorre uma entrevista mais aprofundada. Entregam-me documentos para levar à Segurança Social e um dossier onde está contida a minha “nova” vida. Nele, entre outros, consta um plano e recibos que tenho que apresentar a comprovar a minha busca por emprego. Além disso, descubro que, de 15 em 15 dias tenho que lá ir e apresentar-me.
Saio directamente para a Segurança Social. É que devo entregar, no prazo máximo de 90 dias a contar desde a data do desemprego, um impresso próprio (modelo RP 5000) acompanhado da declaração da entidade empregadora e da declaração do Centro de Emprego. A minha senha é a 102 e o atendimento está no 35. Já vi que vou ter muito tempo até ser atendida. É uma experiência interessante observar a sala de espera. O desemprego bateu mesmo á porta de todos. São novos e mais velhos, mulheres e homens, uns sozinhos, outros em casal, mas a maioria com os filhos. A entrega de jornais gratuitos acaba por distrair a todos, contudo, ao olhar para os lados, o que mais se vê é o caderno de empregos.
Chamam o meu número e levanto com o coração aos saltos. Parecia que estava a adivinhar. Sou mal atendida. A funcionária, uma mulher já de idade, demonstra uma impaciência sem limites que beira à arrogância. Tenho vontade de perguntar-lhe se não quer ir para a reforma e dar-me o seu lugar.
Conselho: Leve fotocópias do Bilhete do Identidade e do Cartão da Segurança Social. Aproveite e tire várias fotocópias de todos os documentos que a empresa entregar junto com a carta de despedimento. Muitas vezes o Centro de Emprego e a Segurança Social parecem não trabalhar em conjunto e, os documentos que entreguei num dos locais, foram pedidos, novamente, noutro lado.

Conclusão
O desemprego está aí, e segundo indicadores europeus, ainda vai atingir os dez por cento até ao final do ano. Já tenho uma grande lista de empresas a contactar. Estou triste, mas inspiro fundo e penso que será apenas uma fase. Amanhã é outro dia.

Adriana Afonso